ALFREDO Campos Matos nasceu na Póvoa de Varzim em 1928. É licenciado em arquitectura e autor de uma vasta obra de investigação e divulgação sobre a vida e obra de Eça de Queiroz. Com mais de 40 títulos publicados, iniciou esta actividade em 1976, com um livro inovador: “Imagens do Portugal Queiroziano”. Colabora regularmente com o Jornal de Letras, Artes e Ideias e com outras publicações culturais. Apresentou nas Correntes d’Escritas o Dicionário de Eça de Queiroz, 3ª edição ilustrada, revista e ampliada.
A Voz da Póvoa – Arquitectura e literatura onde e quando se cruzam?
A. Campos Matos – São duas artes que estão mais ou menos relacionadas uma com a outra. Há literatura na crítica arquitectural. Por outro lado, a ordenação, racionalidade e a estética da arquitectura são similares a essas virtudes da literatura. É aí que elas se encontram, são artes maiores. A arquitectura é uma arte acima de todas porque é utilitária. A escultura não será utilitária, só a podemos ver por fora. Na arquitectura vemos por fora e por dentro, penetramos e estamos ali ligados.
A.V.P. – De onde vem este fascínio pela obra do Eça de Queiroz?
A.C.M. – É um autor da minha juventude. Em 1945, comprei a biografia sobre o Eça de Queiroz da autoria de Gaspar Simões. Aquelas quinhentas e tal páginas de cultura desabaram sobre mim e nunca mais me largaram. Mais tarde fiz uma crítica minuciosa dessa biografia que tem muitos pontos fracos, muitíssimos, mas também tem uma massa informativa absolutamente colossal. Escrevi isso num livrinho que publiquei e que se chama “Sete Biografias”, onde incluo a de Gaspar Simões.
A.V.P. – Qual é a principal novidade da biografia do Eça escrita por si?
A.C.M. – Embora manifeste a minha crítica literária, relativamente ao Eça, vou buscar todos os críticos que conheço e que fizeram critica sobre este escritor. Transcrevo tudo o que é essencial, para me libertar de asneiras ou de parcialidades que possa dizer. Na biografia pode-se encontrar, quer a crítica dos contemporâneos do Eça, quer a melhor crítica até 2015.
A.V.P. – O que o levou a fazer uma abordagem crítica da igreja católica na obra do Eça?
A.C.M. – Eça não acreditava em Deus mas acreditava no Cristo como uma figura histórica, impar. Ele foi profundamente crítico da instituição católica a quem acusava de perverter a mensagem essencial evangélica. Eça não o disse expressamente, mas digo eu agora. No nosso país, a igreja católica provocou um atraso enorme porque, com a sua desconfiança da leitura da bíblia, impediu que esta gente toda fosse alfabeta. À igreja católica em Portugal interessava muito mais o analfabetismo que a literacia.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA