ANA Gonçalves Macedo nasceu a 5 de Outubro de 1916, em Beiriz, Póvoa de Varzim. Foi casada com António da Silva Costa e é mãe de uma filha. Aprendeu a ler e a escrever na casa de uma vizinha, professora. Na idade de brincar ajudava na taberna do pai e aos 16 anos foi trabalhar para a fábrica de tapetes de Beiriz. Aposentou-se como encarregada, ao fim de 48 anos de serviço.
“Os tapetes eram feitos com uma lã própria e à mão. Foi a patroa da fábrica, Ilda dos Brandões, que me ensinou a trabalhar. Muitas vezes trazia para casa os desenhos com as flores e os feitios, para estudar a maneira de os fazer. Alguns tapetes eram para salas de hotel e levavam semanas a concluir”.
Um dia a encarregada Rita Bouças saiu da fábrica e Ana Gonçalves Macedo ficou no seu lugar. Recorda que nesse tempo “levava meia hora de caminho a pé, trabalhava oito horas por dia, de segunda a sexta. Mas chegava a casa e ia olhar pela taberna do meu pai, servir os clientes. Naquele tempo era tudo vendido avulso, o vinho, o arroz, o açúcar, as azeitonas ou o azeite. Agora adoro azeitonas mas quando trabalhava na taberna nem as podia ver”.
Na infância, nunca sobrou tempo para a brincadeira, recorda Ana Macedo: “os meus brinquedos eram a taberna. O meu pai só me queria ver atrás do balcão. Era um tempo de miséria, de fiado”.
O S. Gonçalo é uma festa muito antiga em Beiriz. Ana Gonçalves Macedo recorda que e as pessoas faziam os merendeiros pelas bouças. Da igreja até ao cemitério as ruas enchiam-se de barracas de comes e bebes.
“Quando chegavam as festas, o meu pai matava um porco para servir papas de sarrabulho e rojões aos elementos das bandas de música. As festas e romarias eram aproveitadas pelo meu pai para fazer negócio. Carregava uma pipa de vinho num carro de bois e ia para os locais das festas. Às vezes saíamos às quatro da madrugada. Fazia as festas das freguesias da Póvoa e de Vila do Conde.
Nas festas de S. Bento de Vairão foi ter com o pai mais tarde. Como habitualmente, foi a pé. Podia ir pela ponte d’Ave “mas pela Espinheira atravessava o rio de barco e poupava duas horas. O barqueiro carregou gente a mais e o barco foi ao fundo. A água ficou pelo pescoço e por sorte ninguém morreu. O comer que levava ficou no rio. Em Tougues uma boa alma emprestou-me roupas para poder chegar a S. Bento e ajudar o meu pai”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA.