2415
1
COMPARTILHAR
Inicio Do Porto António Monte...

António Monteiro, 71 anos

António Monteiro, 71 anos

1
2415

SONHAVA ser jogador de futebol e aos 16 anos, em 1960, recebeu um convite para trocar o Amarante FC pela Académica de Coimbra. Mas a «vergonha de jogar com os senhores doutores» levou-o a recusar a transferência. António Pinto Monteiro, hoje com 71 anos, fundou a primeira cooperativa de Amarante vocacionada para a educação de pessoas com deficiência mental, a Cercimarante. A seguir veio a Terra dos Homens, dedicada ao acolhimento de crianças abandonadas e maltratadas. Também esteve ligado à criação de um centro de dia, da secção local do PS, e dirigiu o centro cultural, da Santa Casa da Misericórdia, e o clube onde chegou a sonhar viver com uma bola nos pés. Garante que não sabe o que o move para pensar primeiro nos outros, mas diz que esse é um sentimento que o acompanha desde pequeno. «Lembro-me de ir para a escola descalço, porque tinha pena de os meus amigos não terem sapatos. É óbvio que ouvia das boas da minha mãe.»

Anos mais tarde, depois de cumprido o serviço militar, o homem que nasceu em Marco de Canaveses, mas que se assume como amarantino de gema, começou a evidenciar um espírito empreendedor pouco comum. «Pouco depois do nascimento do meu primeiro filho, decidi criar uma creche e um infantário. Foi o primeiro equipamento público do género em Amarante.» Já no final da década de 1970, o então funcionário da Construtora do Tâmega foi surpreendido durante umas férias que lhe mudaram a vida. «Estava em Aveiro e vi as instalações da Cerciave. Não sabia o que era, resolvi entrar e fiquei impressionado com o que vi. Naquele momento, decidi fazer a mesma coisa para os miúdos com o mesmo tipo de problemas do meu concelho.» No espaço de um ano, António Pinto Monteiro reuniu apoios suficientes para criar a Cercimarante, começando a sua «luta incansável».

Durante o quarto de século em que foi diretor-geral da instituição, Pinto Monteiro bateu à porta de centenas de entidades públicas, empresas e embaixadas. Também visitou cerca de cinquenta países à procura de dinheiro, equipamentos e formação para os terapeutas da instituição. E foi ainda como principal responsável da Cercimarante que António Pinto Monteiro começou a construir a Terra dos Homens. «Via na televisão os maus-tratos que os pais davam às crianças e sabia que esse também era um problema que existia na minha terra. Em dezembro de 1993, Maria Barroso lançou a primeira pedra de uma «casa» que, hoje, acolhe trinta crianças abandonadas ou retiradas das famílias. «Não quero armazéns. Gosto de coisas pequenas para saber o que estamos a fazer.»

Agora que a Terra dos Homens é, tal como todas as que criou, «uma instituição de pedra», Pinto Monteiro revela que pensa retirar-se da vida associativa para compensar a família do tempo que não lhe dedicou. Mas poucos são os que acreditam que isso aconteça.

Por Roberto Bessa Moreira publicado in Notícias Magazine

Partilha

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here