NOS derradeiros anos do século transacto, tive a oportunidade de conhecer e entrevistar, D. Emília Eça de Queiroz.
Emília, era, então, velhinha simpatiquíssima e muito conversadora. Durante a visita que realizei à sua residência, esta, revelou-me curiosos segredos de família, que, por serem do foro particular, não os divulguei nem os divulgo.

Durante a amena conversa, interroguei-a, se conhecera o escritor. Respondeu-me: -“Infelizmente, não”. Mas tanto ela, como a irmã, D. Maria das Dores – Marquesa de Ficalho – (a Mariazinha,) frequentemente inquiriam D. Emília:
– “Avó: como era o avô?!
Emília de Castro Pamplona (Resende), apontava o indicador para a estatueta do Gouveia, dizia-lhes:
-”Se querem ver o avô, tal qual era, olhem para a estatueta do Gouveia.”

Quem era Silva Gouveia, e porque o retratou nessa grotesca posição?
Gouveia (1872-1951) era filho de abastado negociante da Rua de S. João, no Porto.
Muito cedo mostrou inclinação para o desenho, mas o pai, contrariava-lhe a tendência, já que pretendia que o filho seguisse os negócios paternos.
Foi o tio Caetano, irmão da mãe (a Maria,) que convenceu o cunhado, a matriculá-lo nas Belas Artes.
Ao completar o quarto ano, o tio Caetano – grande industrial gaiense, – convenceu o cunhado a deixá-lo continuar os estudos em Paris (1883). Na Cidade da Luz tornou-se amigo de Rodim, Injalbert, Folguière, Pueche e Rolar.
Regressando a Portugal, iniciou as exposições individuais, em casas fotográficas.
Em 1905, apresentou as obras com retumbante êxito, em Lisboa. Todavia, devido a problemas de saúde, teve que regressar à terra natal – Porto, – em 1914.

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Recebeu em 1897, no Salon de Paris, menção honrosa; assim como, em 1900, na Exposição Universal de Paris. No mesmo ano, a medalha de prata, nos Estados Unidos.
Durante banquete de homenagem ao embaixador de Portugal, a que fora convidado, este, convenceu-se que se tratava de jantar informal, e apareceu de fato de passeio. Eça, ao verificar que Gouveia não trajava de harmonia com a cerimónia, virou-se, e acertando o monóculo. disse em ar de troça:
– “Quem é este gigante que parece ter engolido um boi, e deixado os cornos de fora?!”
Gouveia regressou, ressabiado, e executou a famosa estatueta, – a caricatura do Eça.
A estatueta esteve escondida no atelier do artista, meses, receoso de implicações políticas. Descoberta por amigos, foi amplamente divulgada, e disputada em França e Portugal. A Duquesa de Palmela chegou a pagar a exorbitante quantia de mil francos, para obter uma cópia em bronze; e as encomendas choveram de: Portugal e Brasil.

Gouveia fez, também, soberbo medalhão – baixo-relevo, – de Eça, que em nada lhe é inferior. Hoje, há pouquíssimos, segundo revelou-me D. Emília Cabral Silva Gouveia foi agraciado pelo Rei D. Carlos – que tinha um exemplar, da estatueta, na secretária do gabinete, – com a Ordem de Santiago de Espada, pelo reconhecimento da sua obra, taxada, na época, genial.

Eis, em suma, a reduzidíssima biografia do escultor portuense.

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