É VULGAR os jornais inserirem uma coluna onde a Igreja Católica verte a sua opinião pela pena de um sacerdote. Menos vulgar, ou inexistente, será o mesmo jornal dedicar espaço idêntico a outras confissões religiosas ou a um ateu. Nesta sociedade demasiadamente religiosa e considerada laica, há, no entanto, uma honrosa excepção. O jornal regional Gazeta de Paços de Ferreira é o único jornal que, embora sediado numa zona profundamente religiosa, teve a coragem e o discernimento de aceitar a minha colaboração com artigos desta índole e, exactamente, com o mesmo título genérico aqui apresentado, publicando a minha opinião de ateu desde Agosto de 2014.
(Agora já há duas honrosas excepções… o Correio do Porto junta-se à Gazeta!…)
Os ateus são vistos por muita gente como pessoas de mau comportamento cívico e péssima moral… o que é redondamente falso. Imoralidade e mau comportamento encontram-se com demasiada frequência no seio dos religiosos, quer sejam católicos ou pertençam a qualquer seita importada dos trópicos. E do fundamentalismo criminoso alegadamente muçulmano nem é bom falar!…
A ideia de o incréu ser amoral é alimentada por tradições religiosas, e é tão falsa como Judas!
Neste tempo de quase adoração pelo futebol permitam-me que faça esta comparação: o ateu e o religioso bem intencionado (que não o fundamentalista) são como adeptos de clubes de cores diferentes, em que cada um enaltece a equipa da sua devoção diminuindo a do outro. Mas, no fundo, ambos são pessoas iguais. Têm os mesmos sentimentos de alegria e de dor, compartilham os mesmos problemas sociais e familiares, e ambicionam o mesmo: serem felizes e respeitados na sua dignidade. A cor que defendem no relvado é apenas uma cor.
É no respeito do colega da outra equipa que está a atitude racional que distingue o Homem de qualquer outro animal. Confraternizar com a equipa contrária que nos venceu ou foi vencida, é a atitude inteligente e fraterna que deve nortear todos os adeptos de clubes de futebol, de partidos políticos e de correntes religiosas… sem, contudo, deixarem de expressar a sua opinião contrária à de outros, pelo respeito devido a si próprios.
É assim que eu sou enquanto ateu.
E como é você, enquanto religioso?…
Texto de Onofre Varela que não escreve segundo o novo AO e foto obtida pelo telescópio espacial Hubble.