FELISMINA Martiniana Pacheco Portela nasceu em 1931, na Maia. Aos 7 anos veio para a Póvoa de Varzim viver com uma tia, comerciante no Mercado Municipal. A necessidade de ajudar a tia no negócio de roupas e miudezas, impediu-a de frequentar a escola, mas aprendeu a ler nas pessoas e a fazer todas as contas de cabeça. “Fui criada na Praça. Entrava todos os dias às seis da manhã para montar a tenda e pendurar as roupas nas cruzetas. Tínhamos um fogão para fazer o comer e, à noite, levávamos a sopa para casa. Não aprendi a ler porque a tia Rosinha precisava de mim para o negócio, mas sempre tive uma boa memória. Faço todas as contas de cabeça. Com uma catequista, decorei a doutrina toda e fiz a comunhão na Sª. das Dores. Aprendi a costurar e a minha tia comprou uma máquina de ponto aberto, que ainda guardo, e comecei a fazer peças de roupa para vender. Fazia também aventais, saiotes, touquinhas e babetes para bebé. Uma outra costureira fazia roupas de tricana, nada desta vaidade, que vendíamos juntamente com miudezas e brinquedos”. E acrescenta: “vivia já os 60 anos quando frequentei a escola nocturna, mas como gostava de borga e tainadas, só aprendi a assinar o nome e conheci algumas letras que nunca consegui juntar”.
Aos 18 anos Felismina Portela juntou os trapos e casou com Luís Miranda Flores, barbeiro de profissão. “O meu marido começou a seguir-me na rua e a andar pelo mercado a ver-me trabalhar. A insistência acabou em namoro, sempre à porta de casa. A tia acompanhava-nos até nos jogos do Varzim. Casei na Matriz, no dia do Senhor dos Milagres, uma quinta-feira feriado. Levei um vestido cor de azeitona pelo joelho. A boda foi em casa. No dia seguinte passeamos pela Rua da Junqueira e ao segundo dia fomos trabalhar. Aos 26 anos já tinha os meus cinco filhos. Em cada 17 meses nascia um. Fiquei a viver na casa da tia, mas depois conheci várias moradas. Na Rua Gomes de Amorim vivi 14 anos numa casa onde o meu marido tinha a barbearia. Depois da minha tia falecer ainda mantive o negócio no mercado uns anos. Os meus filhos brincavam debaixo da banca com os brinquedos que eram para venda. Depois vim para casa cuidar das crianças e alugava quartos aos banhistas e aos músicos da Banda de Música da Póvoa, que vinham ensaiar ao sábado, onde é hoje a esquadra da PSP. Era eu que cozinhava para os banhistas que vinham de Guimarães, Santo Tirso e de Abrantes. A família dormia no sótão nuns quartos separados por cortinas”.
A vida de trabalho nunca impediu Felismina de abraçar a alegria: “o Luís gostava muito de dançar e levava-me para onde houvesse bailes, fosse na Filantrópica, nos Bombeiros ou no rinque da Matriz. A minha filha mais velha chegou a ficar a tomar conta dos irmãos para irmos dançar. Também gostava muito de ir às festas e romarias. Quando eram fora da Póvoa, alugavam-se autocarros, levávamos o farnel e a seguir íamos ver os ranchos e dançar. Nos autocarros saíamos da Póvoa a rezar e regressávamos todos a cantar. Também gostava muito de ir para o Anjo na segunda-feira de Páscoa. Saiamos a pé de manhazinha, escolhíamos um lugar, estendia-se a manta com os bolinhos de bacalhau, umas iscas de fígado e arroz de frango e dava-se ao garfo. A tarde era para o bailarico”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA