NUM muito emocionado discurso por ocasião da abertura ao público da sua última obra “Jardim-Escultura Alberto Carneiro 1997-2015”, o artista lembrou os tempos em que trabalhava como aprendiz num mestre santeiro aqui em São Mamede do Coronado. Dizia que quando começou e a experiência com as ferramentas e a madeira não era ainda muito segura, lhe competia “tirar a alma aos santos”. Referia-se à operação de retirar madeira do interior das imagens esculpidas.
Coube-lhe agora insuflar uma outra alma em centenas de esteios de granito e um velho tronco de castanheiro para formar esta paisagem metafísica que ele disse ser também um labirinto para as crianças brincarem neste jardim que é um prolongamento da sua casa, do seu trabalho e do seu grande mundo.
A obra artística retoma assim os materiais da terra e recolhe memórias de paisagens que eram fruto dos trabalhos e dos dias da velha agricultura do Vale do Coronado onde os campos estavam rodeados de vinhas e latadas. É assim a arte e os seus segredos revelados: os esteios que serviam para segurar a vinha, servem agora para prender o nosso olhar, fazer vaguear o corpo entre espaços e matérias, sentir o calor ou frio da pedra, acariciar as esquinas e deixar a alma vaguear por este enredo.
Texto e foto de Álvaro Domingues autor de Vida no Campo