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Gente do Porto de Augusto Baptista

Gente do Porto de Augusto Baptista

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UM livro, 136 páginas de histórias, gente que marca o Porto, lhe dá identidade:

. Palmira de Sousa, a árvore de pé descalço, carquejeira das Fontainhas.
. Fernando Aroso, fotógrafo, o Arozinho, no dizer de António Pedro.
. Domingos Vieira, tocador de trombone, a Banda Marcial da Foz, as mulheres: salvação das bandas todas.
. António Cadete Leite, Professor de Anatomia, discípulo de Mello Adrião, a velha Escola Médica do Porto, o úmero com que arranca o ensino médico em Angola.
. Carlos Bessa, o Bessa da Sé: a ganapada da Bainharia, a paixão pelo fado, o seu tio Belarmino, boxeur.
. O lendário Lopes dos jornais, ás da sobrevivência, ardina-menino.
. João de Almeida Arrepia, a alma d’ O Seringador: o Áureo Número, a Tabela Perpétua, os segredos da Epacta XXVII e outros segredos do tempo, da política, dos tratantes.
. Vidal Valente, rosto discreto do TEP: os ensaios de censura, o resgate das mãos da Pide de um cartaz de Zé Rodrigues.
. Mestre Pedrosa, vida de honradez, trabalho de forja, a catrapiscar namorada ao volante de um Chevrolet.
. Virgínio Moutinho, arquitecto do vento, escultor da luz, poeta do perpétuo movimento.
. André Cruz, jovem designer que trouxe o tangram para a rua.
. Maria Vilaça, pintora naif que não sabia o que isso era.
. Professor Pinto da Costa, casa às costas para ver o mar.

E há outra gente, mais histórias:

O apego aos gatos de Arlete Gomes, sobe e desce pelas escadas do Barredo; Maria de Lurdes, entre anjos, profectas, bichos bons ancorados à beira rio; o sonho fatal de Vítor Matos, 80 anos, arco e gancheta pelas ruas da cidade; Américo Santos, cinco anos a meter um carro de bois num garrafão; António Leite, performer do Bolhão, vida encalhada entre o Porto e o Benfica. E mais gente, outras histórias: a democratização da cueca, o passarinho libertário na paragem do 52.

GENTE do PORTO
Texto de Augusto Baptista, edição da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto

À venda: Feira do livro da AJHLP
Rua Rodrigues Sampaio, 140, Porto
2.ª a 6.ª
9h30-12h00  –  14h00-18h00
Sábado
14h00 – 18h00
Ou via email: homens.deletras@gmail.com
ou via telefone 22 208 05 65

Enigma 1680
É um livro no sapatinho ou um livrinho no sapato?

Publicado por Augusto Baptista in azul-canário

Permita-se, por último, que retome Gente do Porto (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 2017), de Augusto Baptista, para insistir em como é belo, tocante e bem escrito este livro, de alguém que é simultaneamente escritor, artista visual (fotografia, ilustração, design) e produtor de livros de tangram – além de firme homem de esquerda (e atente-se, também, nas alusões políticas patentes, aqui e acolá, no texto).

Devo dizer que regresso à obra, porque a considero um dos melhores livros de prosa que li em 2017, e todavia enquadrado num género geralmente pouco valorizado: entre a reportagem, a crónica e a entrevista. Só que, no caso de Baptista, há sempre um estilo, e uma reconhecível dimensão literária na escrita – que é viva, enxuta, precisa, tão imbuída de humor como de contido mas tocante lirismo. Eu não conseguia parar de ler Gente do Porto, confesso, bebendo estas figuras reais (várias ainda vivas), tornadas memoráveis pelo traço de Augusto Baptista. Giza-se aqui uma galeria que abarca velhas figuras populares (da Ribeira, da Sé, da Baixa portuense), velhos ofícios, mas um ou outro novo, também – tais como uma carquejeira das Fontainhas, um pedinte, um fotógrafo dos antigos, um tocador de trombone, um professor de anatomia, um apaixonado pelo fado (outros por gatos), um ardina, um ponto de teatro, um designer, uma pintora naïf(ve), um especialista em medicina legal, um arquitecto inventor de prodigiosos objectos lúdicos, etc.. Há uma forte pulsão humanista e, ao mesmo tempo, social e até política no gesto de apresentar, descrever, conceder voz a esta gente. Muitas das figuras Baptista resgata-as, com indesmentível talento, do esquecimento, em toda a sua humanidade e pitoresco. Vai a tempo ainda de as salvar da desmemoriada voragem do «tsunami turístico», para recorrer à certeira expressão sua em nota prefacial. Restitui-nos, desse modo, um Porto de que ainda somos contemporâneos, mas um Porto, claramente, sob ameaça de extinção.

Não perca, leitor/a, este pequeno mas valioso livro, de preço em conta. Para o adquirir, procure-o na AJHLP (que o edita), à Rua Rodrigues Sampaio, 140, Porto. Alternativa: recorra ao telefone 222080565 (parte da tarde) ou solicite envio para homens.deletras@gmail.com.

Por José António Gomes publicado in Abril Abril

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