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Helena Martins, 33 anos

Helena Martins, 33 anos

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EXISTEM sorrisos tão sinceros e genuinamente satisfeitos que são capazes de nos contagiar com a felicidade que transmitem. São os sorrisos que sabem falar por si mesmos, que contam histórias bonitas, que nos enchem o coração. São os sorrisos das pessoas bem resolvidas consigo e com o Mundo que as rodeia, que não deixam nada para trás, que sabem viver plenamente. E é assim que eu vejo a Helena.

Encontrei-a num final de tarde corrido, mas a nossa conversa já estava prometida há muito tempo. No entanto, havia sempre algo que se intrometia entre nós, que sabia ser mais urgente do que aquilo que tínhamos para dizer uma à outra, e que rapidamente roubava todas as atenções. Mas, como a vida sabe sempre o que fazer nestas horas, um impulso de última da hora ditou o nosso encontro e a vontade de falarmos durante umas horas. E, talvez por isso, foi uma conversa longa com muitas particularidades e narrativas, com trocas de experiências bonitas e apelidar-nos as palavras.

A Helena é de Ovar, “a terra do pão-de-ló e das figadeiras”, de onde tem muito orgulho. Há 5 anos mudou-se para o Porto e adora, pois diz que é a cidade que a representa melhor, a cidade onde devia ter nascido. Naquele dia em que falámos, deparei-me com uma Helena rouca e em pânico, por faltarem poucos dias para cantar num casamento de família, uma das muitas coisas que decidi fazer por quem gosta, por quem lhe aquece o peito. [mas, segundo sei, correu tudo muito bem, assim como se esperava!]  É nesta dedicação definitiva que vive a vontade da Helena que, com 33 anos, corre tanto quanto as suas pernas forem capazes de aguentar.

Quando era miúda não estudava muito, mas sempre foi boa aluna. Ainda assim, concentrava alguma preocupação nos seus pais, que preferiam que ela fosse mais dedicada a esse nível e a aconselhavam a não fazer mais nada senão estudar para a escola. Conseguiu ir para atletismo e lançamento de peso, e foi pentacampeã nacional de Atletismo por Equipas, até isso interferir com o seu joelho e ter de desistir. A sua curiosidade pelas artes e pela música falou mais alto e, depois de juntar dinheiro, acabou por ir para a escola de música onde a sua irmã estudava, mesmo às escondidas dos seus pais. E, mais tarde, quando souberam, a resignação foi rápida e evidente.

Os seus pais sabiam que a sua característica elevada de argumentação era passível de determinar a sua carreira enquanto advogada, por isso, para dar uso a essa particularidade, ingressou no curso de Direito, mas logo percebeu que não era esse o seu meio. Foi para o curso de Psicologia na Universidade do Minho, por pensar que seria mais “banda larga”, por achar que seria melhor para fazer muitas coisas ao mesmo tempo, assim como gosta. Apesar disso, não é na clínica que se revê, pois só a faz pro bono, em regime de voluntariado e apenas com supervisão, já que, de outra maneira, não se sente preparada para a fazer.

Por outro lado, especializou-se na área da Psicologia das Organizações, a área mais “cool” e interessante da Psicologia, segundo ela. Fez um Mestrado Europeu, numa colaboração entre a Universidade de Coimbra e de Valência e ainda hoje tem contactos relativos a isso, por ter saído na primeira fornada de um curso que lhe mudou a maneira de ver e de agir. Mais recentemente, ingressou também num Doutoramento em Ciências Empresarias na Faculdade de Economia do Porto, algo que lhe consome um espaço descomedido, mas que quer concluir, pelo seu alto sentido de responsabilidade e dever de acabar algo que começou.

Revela que tem o problema de gostar de fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo e tem muitos blogs com várias valências, mas caracteriza-se, na sua essência, como uma contadora de histórias, originais e sinceras como aquilo que carrega dentro de si. É por isso que dá aulas e que transmite essas ideias para os seus alunos, mas é também por essa razão que se detém nas palavras para narrar as histórias que escreve.

Com este mote na sua mente criou o Personificcionar (blogfacebook), ou, segundo ela mesma, “um catálogo de personagens imaginárias para ficç(acç)ão, um kit de ideias, para pensar, escrever ou sonhar”. Para a Helena, as histórias são como os segredos, como um álbum de memórias para voltar sempre que se quer, com o poder quase mágico de fazer perceber que não somos únicos, que não estamos sozinhos, que existem outras pessoas como nós e que, no final das contas, vai ficar tudo bem explicado e saldado. Assim são as narrativas que escrevem, as personas que relata com a naturalidade das verdades.

Entretanto, este projecto foi crescendo, ganhando proporções grandes como as pessoas que contava. Deu por si a fazer um espectáculo deStorytelling por ano, onde envolve os que a ouvem e vêm num momento que mexe com os sentidos, com a perícia de construir algo constante na alma de cada um. E, mesmo pequenas, são narrativas para adoçar as lembranças, para espicaçar aquilo que temos talento para fabricar com os detalhes da nossa imaginação.

Anos passados, chegou a altura da despedida destas suas histórias, pois já não é bem aquilo que quer fazer com o seu tempo e tem outros planos para o futuro. Mas não queria que estas narrativas morressem, não queria que o tempo as levasse ao esquecimento, por isso decidiu criar um novo passo, recorrendo ao crowdfunding e à ajuda do público para imortalizar os seus escritos num livro, para fechar este capítulo de consciência tranquila. Estes são os seus planos reais e actuais, com o “Eu a ti, contava-te uma história“, que conta já com a conclusão da totalidade do seu objectivo, resultando na publicação efectiva do seu livro, mas tem também outras coisas na manga, como os espectáculos de Storytelling prometidos e o lançamento deste seu livro em vários sítios.

A Helena tem esta virtude de fazer as coisas com sinceridade, pois é aquilo que tem para dar. Acredita piamente que há pessoas para todos lugares, já que

“A floresta não tem de ter só rouxinóis”

e que a vida só faz sentido se for preenchida, corrida, com o ar ritmado. No ano passado, quando decidiu dedicar-se apenas a uma coisa e ficou doente, aprendeu que só sabe estar se estiver em vários sítios ao mesmo tempo, sempre a mexer com várias coisas. Hoje, está em paz com o facto de fazer muita coisa e nunca ser especial numa só. É isso que a faz especial, é isso que a faz feliz.

Não é fácil encontrarmos pessoas genuinamente felizes e em paz com aquilo que têm na vida. Há sempre algo que se interpela, alguma notícia má que ganha a urgência que capta as atenções de quem segue o seu caminho. A Helena é esta pessoa que vos descrevo, com o sorriso fácil e permanente, o mesmo que escolhe para determinar os seus passos. Anda assim pela rua, distribui a sua alegria por todos os que a vêem, já que isso cumpre o seu dever principal: fazer algo para que a vida dos outros seja melhor. É esse o mote da sua existência, num altruísmo saudável, que sorri para todos os que se cruzam com ela.

É assim que a Helena se constrói, se cria, se determina e se encontra consigo mesma. Um pardal silvestre numa floresta de rouxinóis, tão diferente dos demais, mas com a simplicidade que a faz sincera. Em paz. Feliz.

Por Raquel Caldevilla publicado in Raquel Caldevilla

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