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Israel Matos, Posticeiro

Israel Matos, Posticeiro

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JÁ faz mais de dois anos que conheço o Sr. Israel. Todos os que o conhecem tratam-no por Cardoso, uma herança que não o incomoda muito. Tinha a ideia de realizar um pequeno documentário experimental, mas acabei por registar simplesmente a sua arte. Cardoso Cabeleireiro é uma casa que nasceu para o Teatro, mas que hoje não serve mais o mesmo. Por esta casa passam e passaram pessoas como Eunice Muñoz, Raul Solnado, Camilo de Oliveira, Ivone Silva, actores da Revista do Sá da Bandeira, figuras do Zip Zip quando era feito no Rivoli, e sei lá mais quem. Quando se precisava de bigodes, suiças, cabeleiras para o Teatro todos ali passavam. Foi um vizinho do Sr. Israel que o empregou no Cardoso Cabeleireiro, tinha ele 11 anos. Fez a tropa e voltou para esta casa.

Não tem qualquer grau de parentesco com os antigos Patrões, nem conhecido deles era, mas agora é ele a imagem do Cardoso Cabeleireiro.

“Aqui fiquei e aqui vou morrer”, costuma dizer. Para aprender esta arte é preciso ser-se novo para ganhar paciência, não é de um dia para o outro, é preciso muita paciência. No que diz respeito a perucas, Israel é um verdadeiro Mestre, um dos mais antigos daquela rua. Compara o seu trabalho ao trabalho dos relojoeiros, tão miudinho, tão miudinho que é preciso ter muita pachorra.

Hoje já não trabalha tanto para o Teatro. As perucas de hoje são para atos mais reais, representados no palco do mundo real. Se quiser uma peruca para uma boneca, também faz, desde que as bonecas não sejam do “chinês”, só aceita bonecas antigas com algum brilho.

Na Cardoso Cabeleireiro chegaram a trabalhar seis pessoas, havia trabalho para toda a gente até ao Domingo. Camilo de Oliveira e Raul Solnado, quando por ali passavam gostavam de deixar a sua graça, eram momentos de risota.

Texto e vídeo de José Simões publicado in Roteiro Oficinal do Porto

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