IVA Manuela de Oliveira Neiva nasceu em 1950, na Póvoa de Varzim. Fez a 4ª classe, foi rendilheira, costureira e delegada sindical na Maconde, tomou conta de crianças e negociou farrapos. “Com cinco anos, aprendi a fazer renda de bilros com a minha tia Amália. Quando deixei a escola já ganhava dinheiro com as rendas. Também ia para o Rio dos Tanques ajudar a minha avó a lavar a roupa para clientes da alta. Depois de recolhida do coradouro vínhamos para casa dobrar as roupas e brunir as camisas com ferro a brasas de carvão. Como não tinha pai, para ajudar no sustento da família, aos 13 anos fui trabalhar para a Maconde e nas horas vagas fazia renda de bilros. Na feira de Vila do Conde, os bilros feitos na Póvoa eram mais bem pagos. Nós trabalhávamos com os bilros batidos na almofada, gastava-se mais linha mas as rendas ficavam mais perfeitas. As rendilheiras da Vila trabalhavam com os bilros na mão, apertavam menos a linha. Chego a ter numa almofada 300 pares de bilros e trabalho com eles todos. Tenho trabalhos feitos há quatro anos e ainda hoje estão como novos”. E recorda: “quando o Oliveira Salazar vinha a casa da dona Virgínia do Monte, junto à igreja das Dores, ela encomendava à minha tia Anália. Mas era eu que fazia as rendas para ele pousar o copo. As mulheres da minha família eram todas rendilheiras. Na Matriz fazia-se mais rendas de bilros do que camisolas poveiras, embora eu tivesse feito algumas”.
Com as duas filhas e um filho para criar, Iva Neiva teve que dar um novo rumo à sua vida. “Não é fácil ser mãe solteira e conseguir formar os filhos. Ao fim de 20 anos, sai da Maconde e, com a ajuda da minha mãe, comecei a tomar conta de crianças em minha casa. Cheguei a ter 15. A maioria vinha com quatro meses e alguns viveram comigo até aos 13 anos. Eram os meus netos emprestados. Tive crianças que só iam passar o fim-de-semana a casa dos pais. Já crescidos e alguns formados, ainda me visitam. Tenho muito orgulho nas crianças que ajudei a criar. O meu quintal era uma festa todos os dias. O tempo que me sobrava empregava-o na compra e venda de farrapos para tecer mantas”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA