JOÃO Araújo, natural de Ponte de Lima e Rita Huet, natural do Porto, conheceram-se nesta segunda cidade enquanto estudavam Design de Comunicação e onde viriam a trabalhar juntos sob o nome de And Atelier. Após as primeiras colaborações de trabalho, com destaque para a direcção de arte e redesenho integral do sétimo número da revista Dédalo em 2010, continuaram a construir um sólido portefólio que se desdobra, entre outros projectos, em comunicação impressa para instituições de ensino, conferências ou relatórios anuais, identidade e Design editorial, sempre com numa forte componente tipográfica associada. Em 2012, no âmbito do Festival do Cartaz e do Grafismo de Chaumont, responderam ao open call para uma intervenção numa antiga fábrica têxtil, onde, através duma instalação tipográfica e da exploração gráfica e narrativa do formato postal, ilustraram a sua relação de descoberta pessoal da vila. Com referências na irreverência do Design holandês, na tradição tipográfica suíça e no saudosismo da herança do Design gráfico português, João e Rita vêem o Design como um processo ou um método, mais do que um resultado final. Uma ferramenta pedagógica que lamentam não ser introduzida e incentivada desde cedo junto dos mais novos.
O sítio escolhido por ambos para este artigo é na verdade um sítio duplo que acabámos por visitar em dois dias diferentes. As íngremes escadas dos Guindais e Codeçal, praticamente paralelas, estabelecem a ligação entre a parte alta da cidade, junto à Batalha, e a Zona Ribeirinha, levando-nos à entrada da Ponte Luís I. A subida e descida veio ser facilitada pela recuperação do Funicular dos Guindais, inaugurado em 2004, mas que nem por isso veio retirar o protagonismo a este local que esconde parte do património geográfico e urbanístico da cidade do Porto. É na desorgazinação organizada das escadas e dos edifícios desta construção vertical com vista para o rio que o João e a Rita encontram algumas das características que mais lhes agradam na cidade. Dois parêntesis urbanos para os And Atelier.
Como e onde se conheceram?
R: Conhecemo-nos em Dezembro de 2008, na Faculdade de Belas Artes, através da nossa amiga Inês. Estava eu no 3º ano e o João no 4º. Nessa altura acabámos por começar a trabalhar juntos em projectos de grupo de disciplinas que tínhamos em comum, como Vídeo ou Produção Gráfica.
Falem-nos do vosso percurso académico. O que pensam do ensino do Design em Portugal?
R: Eu sempre fui muito indecisa, e fui parar ao curso de Design de Comunicação um pouco de paraquedas. Depois de ter concluído o 12º ano em Artes, no Porto, continuava a hesitar entre Letras, Matemática, Teatro, Design ou Artes Plásticas e só mesmo no último instante me decidi. Ainda bem. O Design acaba por ser uma disciplina onde todas estas e outras áreas se intersectam.
O ano que mais gostei foi o último, foi aquele onde os desafios foram maiores. A maioria das pessoas nesse primeiro semestre foram em Erasmus, mas eu acabei por não ir. Em Design Multimédia desenvolvemos três projectos muito estimulantes. Era uma área nova, mas a disciplina estava estruturada de forma a que tivéssemos o tempo e o acompanhamento necessário para investigar, discutir e desenvolver conceptualmente os projectos e só então produzi-los. Foi algo que senti muitas vezes que faltava – tempo – em disciplinas que se isolavam e não falavam entre si, tendo como consequência um excesso de projectos em simultâneo, aos quais os alunos não conseguiam responder com qualidade. Foi também este o ano em que, com o João, desenhei a revista Dédalo, o primeiro projecto editorial em que participei. Depois de acompanhar todo o processo de produção da revista, foi muito especial o momento em que a tivemos nas mãos, vinda da gráfica, não sei explicar. Todas as decisões tomadas estão ali.
No entanto não posso dizer que, ao olhar para esses quatro anos, não haja uma série de falhas que não fazem sentido nenhum existirem. Eu entrei precisamente no primeiro ano de Bolonha, e era clara a desorganização interna daí recorrente. Muito desanimadora foi também a ausência total de qualquer tipo de acompanhamento no final do curso.
Mas essencialmente, acho que a faculdade foi muito importante para mim enquanto espaço de experimentação de várias áreas, desde o vídeo, fotografia e técnicas de impressão até à crítica ou à História do Design e sobretudo enquanto espaço de descoberta do que é e o que pode ser o Design.
J: No início tive dúvidas quanto à área específica do Design que gostaria de estudar e onde – Porto, Aveiro, Lisboa? Hoje sinto que fiz a escolha certa. Conheci professores e colegas que me ensinaram e continuam a ensinar bastante. A experiência em Belas-Artes no Porto foi muito positiva, porque também é aquilo que acontece fora das aulas, nas conversas no jardim, nos edifícios de pintura e escultura, assim como no espaço envolvente à faculdade. Sinto que algumas disciplinas, teóricas e práticas, foram de facto muito importantes e influentes para o meu processo de trabalho e relacionamento com o Design, Hoje. Destaco também Design Multimédia, no 4º ano, com o professor Miguel Carvalhais, onde ouve espaço e tempo para aprender como oDesign é um acto processual, de investigação, de decisões e ao mesmo tempo experimental e divertido.
Sobre o ensino de Design em Portugal, a principal crítica que posso apontar, com base na minha experiência académica, prende-se com a ausência do apoio destas instituições aos estudantes que terminam os seus estudos. A conclusão de um curso traz consigo o início de uma nova etapa. De um momento para o outro perdem-se as referências e as rotinas. Da mesma forma que falha no acompanhamento a essa transição, o ensino superior também não está preparado para abordar e preparar os seus alunos para as diferentes possibilidades de vias profissionais a seguir.
Há quanto tempo moram no Porto e que rituais construíram com a cidade? De que coisas sentem falta quando estão no estrangeiro?
R: Eu nasci no Porto e moro cá desde então. Gosto da sensação de andar na rua e conhecer os cantos à casa, gosto de poder prever o percurso exacto que vou fazer, porque não gosto nada da sensação de me perder sozinha. Acho que o Porto, para mim sempre foi precisamente isso, casa. Depois de começar a estudar acabei por começar a frequentar muito mais a zona da Baixa/Aliados, pela sua proximidade às Belas Artes e, mais tarde, por termos um espaço de trabalho lá.
De tempos a tempos não resisto aos gelados da Sincelo, da Neveiros ou a um docinho da Ribeiro, mas não sei se lhes chamaria rituais. Um recente, mas refrescante ritual têm sido as nossas conversas ao Sábado de manhã, no Ateneia, contigo, o Zé, o Nicolau e quem vai aparecendo. Também aos Sábados, quando conseguimos acordar mais cedo, gostamos de espreitar a Vandoma.
Sobre o estrangeiro…acho que quando estamos lá, não chega a ser tanto tempo assim que dê para sentir falta de algo em particular. São alturas em que vemos muitas coisas novas, estimulantes e momentos bem preenchidos.
J: Vim do Minho e vivo há 7 anos no Porto. Quando vim para cá, para estudar nas Belas-Artes, fui conhecendo a cidade aos poucos, andando a pé sozinho por ruas que não conhecia. Depois, para voltar, procurava uma estação de metro que me levasse a casa. Hoje, para além de alguns rituais que a Rita me “obriga” a fazer e a provar, continuo a ter esse mesmo hábito de às vezes me perder pelo centro do Porto.
Perante um problema de Design, quais são as vossas maiores preocupações?
J&R: Varia tanto! Mas acima de tudo temos de fazer uma coisa em que acreditemos e para chegar lá há todo um processo de investigação e procura de um caminho que para nós faça sentido e que consigamos defender e justificar perante nós e perante os outros. Esse processo é sempre marcado pela incerteza, quer daquilo que será o objecto final, quer de se estaremos a percorrer o melhor caminho possível. Procuramos discutir tudo em conjunto, perceber qual o contexto em que vamos trabalhar, quais os limites, por onde não queremos ir. Como temos posturas diferentes, é uma forma de garantir que um chama o outro à razão, porque às vezes estamos tão absorvidos que é difícil haver o distanciamento necessário para tomar algumas decisões. É também muito importante para nós manter uma relação aberta e próxima com as pessoas com quem trabalhamos, sendo que daí decorrerá um resultado muito mais gratificante para todas as partes. No mesmo sentido, temos por hábito discutir os nossos projectos, sejam questões conceptuais ou mais práticas/técnicas, com os nossos amigos, assim como discutimos os projectos deles. É fundamental este feedback.
Uma das nossas principais preocupações, transversal aos projectos que temos vindo a desenvolver, prende-se com a tipografia, seja na escolha de uma fonte, na conjugação de várias ou no desenho de um lettering específico para o projecto. Procuramos ser o mais rigorosos possível no tratamento tipográfico, respeitando o desenho das letras e os ritmos das palavras em causa. Não gostamos de modinhas. A forma deve decorrer de uma relação intrínseca com o conteúdo.
Em 2012 fizeram parte da selecção de designers convidados a intervir no Festival Internacional de Cartaz e do Grafismo de Chaumont, onde sintetizaram graficamente alguns dos elementos iconográficos e arquitectónicos da própria vila. Falem-nos um pouco deste processo e da experiência de participar no festival.
Conhecíamos o Festival, pela sua forte ligação ao cartaz e ao Design Gráfico e, portanto, íamos estando de certa forma atentos, através da internet. Reparámos que, a par da competição internacional de cartazes que há 24 anos organizam, tinham divulgado uma open call para uma intervenção/exposição no Titza Textil, antiga fábrica têxtil ainda activa. Existia um conjunto de dez espaços expositivos, de 25m2, e procuravam dez grupos/jovens designers, para desenvolverem um projecto in loco, durante as duas semanas do Festival. Tínhamos imensa vontade de ir até lá e portanto achamos que seria uma óptima oportunidade para o fazer.
O nosso projecto acabou por transparecer, de certa forma, essa vontade de conhecer e explorar aquele lugar. Fizemos uma primeira viagem, que antecedeu aquela onde produziríamos a exposição. Nela conhecemos a vila, os seus espaços, ruas, habitantes, hábitos, rotinas, a organização do Festival e a sede a partir da qual ele é programado anualmente. Percebemos que existia uma relação de “amor/ódio” entre a vila e o Festival e quisémos explorar esse atrito.
O projecto que apresentámos foi o resultado da nossa experiência e descoberta pessoal de Chaumont e também uma procura da forma mágica e sedutora como ostravel posters nos mostram um lugar, aqui num formato que pode efectivamente viajar – o postal. Quisémos encontrar pontos de conexão entre Chaumont enquanto “Ville de Chaumont” e enquanto “Ville du Graphisme”, através do desenho de um conjunto de seis imagens, ilustrações, associações, ficções, estórias que aproximam os habitantes da vila e o Festival num mesmo pedaço de papel. A par do desenho destes postais, desenhámos e construímos o espaço expositivo.
Ao mesmo tempo, a cidade transformava-se num palco de acção e de experimentação, com exposições, conferências e workshops. A acompanhar o Festival desde o início, a Competição Internacional de Cartazes, todos os anos expõe cartazes de profissionais e estudantes, sendo depois atribuídos três prémios em ambas as categorias, não existindo qualquer abusivo custo de participação. O espólio de cartazes que aqui se vai construindo, e que já ultrapassou os 40000 exemplares, será certamente um precioso registo da presença e evolução deste formato ao longo do século XX e XXI na Europa e no Mundo. Este ano, estamos muito contentes porque tivemos um cartaz que foi seleccionado para a exposição de 2013.
A forma como o Festival vive na e da cidade é notória, desde a reabilitação e transformação de uma antiga cooperativa agrícola – Le Silos, Maison du Livre et Affiche – numa Mediateca frequentada diariamente pelos habitantes e que alberga a sede da organização do Festival, oficina de serigrafia e arquivo da colecção de cartazes, até à transformação de uma antiga capela religiosa numa galeria de arte contemporânea, ou mesmo à ocupação temporária do antigo edifício do Banco de França como espaço de produção e impressão de um jornal e realização deworkshops.
Ainda que o pico de actividade seja notoriamente visível no fim-de-semana inaugural, a experiência de todo o Festival resulta num diálogo europeu, que apresenta e discute aquilo que é a cultura do Design francês e aquilo que acontece actualmente por toda a Europa. É dado o espaço e apoio à experimentação de novos modelos de comunicação, assim como ao teste dos seus limites.
Foi um projecto com o qual aprendemos imenso, porque envolveu trabalharmos num novo país e numa cultura diferente, num contexto que nos permitiu conhecer melhor o comportamento do Design e dos seus intervenientes a uma escala europeia. Foi também a primeira exposição que produzimos e que nos colocou uma série de novas questões muito estimulantes sobre estruturas expositivas, escalas e ritmos de leitura num espaço tridimensional, que queremos continuar a explorar.
De volta ao Porto, que razão ou razões vos levaram a escolher estas escadas como plano de fundo do vosso artigo? E que história está por detrás do balão de São João que desenharam e construíram? Como costumam celebrar esta data festiva?
Como o lançamento previsto para esta entrevista era a 27 de Junho, achámos que não poderíamos deixar passar uma festa tão portuense como o São João. No ano passado, construímos pela primeira vez um balão de S.João. Era mais um foguetão, em papel de seda azul, vermelho e verde, cores que se misturavam com a luz. À noite, com os nossos amigos, num terraço perto das Fontainhas, tentámos que ele subisse. Estávamos com um bocadinho de vergonha, por causa da forma um pouco fora do vulgar do balão. Estava a ser difícil aquecer o ar para que conseguisse subir. Mas o que foi bom é que muitas pessoas desconhecidas começaram a juntar-se, determinadas em fazer o balão-foguetão subir. Estivemos lá todos um bom tempo. Acabou por não subir mais do que uns centímetros, mas guardamo-lo intacto. Quisemos depois lançá-lo uns dias mais tarde, nestas escadas (Guindais), num dia em que fomos com os nossos amigos assistir a um jogo de Portugal no Guindalense. Mas acabou por não fazer muito sentido fazê-lo depois da noite de S.João. Guardamo-lo até este ano e fizemos algumas alterações para o tentar lançar novamente.
As escadas que escolhemos para este artigo têm algumas características que mais gostamos da cidade do Porto. São desorganizadas e organizadas ao mesmo tempo. Numa construção vertical muito acentuada, em muitos recantos escondem pormenores arquitectónicos e gráficos. São um parênteses e um lugar privilegiado pela sua proximidade e vista sobre o rio. Gostamos também desta ideia de escolhermos duas quase-paralelas que unem a parte alta e baixa da cidade.
Existem outros sítios no Porto que, por alguma razão, gostariam de divulgar?
Sim! Estivemos mesmo mesmo para escolher um outro espaço — o Bolhão. Mudámos agora recentemente para a baixa do Porto e é um lugar ao qual temos ido mais frequentemente. Está literalmente a cair aos pedaços. Como é possível? É um espaço dos portuenses, que mesmo assim se mantém tão rico, colorido, vivo e sensorial. Não conseguimos mesmo compreender, se não à luz de uma Câmara que aceita transformar também o antigo Mercado do Bom Sucesso num hotel pateta.
De que forma viver nesta cidade, e em Portugal, influencia o vosso ponto de vista e a vossa abordagem relativamente ao Design?
É difícil ter o distanciamento necessário para conseguir responder à pergunta.
Profissionalmente, viver em Portugal ou no Porto ou em qualquer outro lado, influencia-te pelos espaços, pessoas, eventos, recursos a que tens acesso.
No Porto há uma grande falha na oferta cultural, circunscrita a iniciativas independentes, individuais, sem apoios. Temos a sensação de que a cidade/câmara se preocupa mais com os turistas e menos com as pessoas que de facto vivem a e na cidade. Não há, por exemplo, a preocupação em criar infra-estruturas que permitam às famílias viverem no centro do Porto, em prol da criação de um centro pseudo-atraente para turistas, com franchisings de quatro rodas sempre em circulação nas estradas.
Depois vemos três instituições de “referência” — Casa da Música, Serralves e TNSJ (é curioso também aquilo que falávamos noutro dia, de como há um/dois anos, esta última funcionava como uma grande referência para os alunos de Design…) — que vão também sofrendo sucessivos cortes, mas o restante é praticamente paisagem.
Queres consultar uma boa biblioteca de Design e onde vais? Não existe aqui. Desde o final do ano passado a Culturgest, abriu a sua colecção de livros de Arte e Designpara venda bem no centro do Porto, vindo colmatar um pouco essa falha, até então resolvida pela Internet. A ESAD tem também vindo a assumir um importante papel na dinamização do Norte, com a organização regular de conferências e exposições.
Em relação ao Design, não sei se não poderíamos fazer aquilo que fazemos aqui a partir de qualquer outra parte do mundo. Ao estarmos cá, somos influenciados e estimulados pelas pessoas com quem estamos e discutimos e por aquilo que elas próprias fazem. Gostamos de ter o nosso espaço e as nossas coisas, o nosso “arquivo”. A Internet também funciona como um importante estímulo, fundamental para manter diariamente presente aquilo que está a acontecer e a ser feito noutros países. Num tom mais negativo, somos de certa forma condicionados pelos limites dos recursos existentes e influenciados pelo desconhecimento geral da contribuição doDesign para a sociedade. Também, como falávamos, parece que já estamos de alguma forma programados para pensar – como vamos fazer isto com menos dinheiro possível?
Falem-nos de algumas referências no Design.
A herança do Design gráfico português é para nós uma referência e um motivo de orgulho. O Trabalho de Sebastião Rodrigues, Fred Kradolfer (suíço), António Garcia, Victor Palla, Maria Keil, João Botelho e Luís Miguel Castro, Cristina Reis, Jorge Silva, entre outros, continuam a ser uma referência muito importante e que está mais perto de nós. O Sebastião Rodrigues é incontornável. Continua a impressionar-nos sempre que encontramos ou compramos alguma coisa dele. Fascina-nos a forma genuína, elegante e sofisticada de como trabalhava os ritmos de um livro, a ilustração de uma capa ou uma colecção, o uso que fazia da fotografia, a composição e arranjo tipográfico… era o maior!
Não podemos também de deixar de referir dois países, que são também duas referências para nós: a Holanda, pela sua irreverência e ousadia, nomeadamente com o rigor do trabalho da Irma Boom, o uso mágico que Karel Martens faz de cores, formas e sentidos e a metodologia e abordagem conceptual da dupla Mevis van Deursen; a Suíça, pela sua tradição tipográfica, pelo estilo que criou, pela grelha, pelo Muller-Brockmann, pelo Armin Hofmann, etc.
A experiência do festival de Chaumont, tornou-se também para nós uma referência pela sua relação com o formato Cartaz. Ficamos fascinados com as incríveis impressões serigráficas em grande formato da Lezard Graphique e com os cartazes do Vincent Perrottet e Anette Lenz para o teatro Nouveaux Relax, que conseguiam criar uma ponte muito estimulante com os habitantes da vila.
Quais são as grandes questões com que se depara um jovem designer de comunicação Português, aqui e agora?
Por onde começar?…Como não emigrar?…
As dificuldades acabam por ser transversais a todas as áreas e comuns não só a “jovens” que não deixam de o ser, como a qualquer faixa etária. As oportunidades de emprego são cada vez menores e inversamente proporcionais às ofertas de estágios ou trabalhos não remunerados.
A crise despertou e deu visibilidade à existência destes estágios e à exploração que existe na nossa área e não só. Aqui, assim como noutros países, estabeleceu-se uma espécie de ritual de iniciação, que diz que, após a sua formação, um jovem designerdeve sujeitar-se a uma sucessão de curtos estágios não remunerados, a fim de conseguir a tão desejada experiência e fiabilidade, retirando-a por consequência à entidade que o formou. E aqui esse saltitar parece ainda mais interminável e sem perspectivas de chegar a um bom lugar. Para um designer que queira trabalhar por conta própria, coloca-se a questão dessa fonte de rendimentos, quando possível, não ser suficiente e de ser preciso manter outro(s) trabalho(s) para poder continuar a desenvolver os projectos que se anseia fazer.
Que papel activo poderia desempenhar o Design português num país mergulhado num clima de recessão financeira e cultural, e onde o mesmo parece ser visto como uma das últimas prioridades?
O Design não é visto como uma disciplina importante no desenvolvimento da indústria, de produção cultural ou enquanto ferramenta de pensamento, raciocínio e criatividade. Fora da área, a sua presença e discussão não existem diariamente, nos meios de comunicação e, quando existem, é confundido com decoração ou design de luxo/gourmet. É visto mais enquanto embelezamento de uma coisa e não como um processo e um método. E o Design (bem ou mal) é uma ferramenta, que é utilizada em vários contextos, se não em todos!
Não vemos o Design, tal como qualquer outra disciplina, capaz de, sozinho, funcionar como principal motor para a resolução do problema actual português. Ele vive da relação com todas as outras disciplinas, áreas e intervenientes. Há imensa qualidade e capacidade nos designers portugueses, o que não acaba por se reflectir no panorama nacional e na qualidade do que é produzido. É fundamental existir também, por parte das entidades governamentais, a criação de apoios e de oportunidades para que os designers possam desenvolver as suas competências. Ter uma agenda regular e diversificada, quer especializada, que apoia e estimula o desenvolvimento de novos projectos e o avanço e crescimento da disciplina, quer aberta, envolvendo designers e cidadãos, as empresas, as escolas…
Porque não o Design ser uma ferramenta acessível a todos? Porque não, por exemplo, estar ao dispor das crianças nas escolas, desde cedo, para que o entendam e utilizem como método processual de trabalho, experimentação e criatividade?
Há também a falta de uma entidade que defenda verdadeiramente e com seriedade osdesigners e o Design – condições de trabalho, regulamentação de concursos, direitos de autor, salários, contratos, etc. Não sob uma forma burocratizada, mas enquanto auxílio/referência. No fundo, algo que o fantasma Centro Português do Designdeveria ter feito e não fez.