NATURAL do Porto, foi campeão nacional em 2009 e viu a sua fotografia a surfar ondas grandes ser nomeada para o Billabong XXL. João Guedes, com 27 anos, contou-nos um pouco sobre a sua vida, o surf e o Porto, onde está a decorrer a segunda etapa da Liga MOCHE.
Ainda estás a morar na Ericeira?
Mais ou menos. A família da minha mãe é de Lisboa, mas sempre vivi e estudei no Porto. Quando parei de estudar, comecei a ir mais tempo lá para baixo porque era importante para mim a nível profissional. Hoje, divido o meu tempo entre o Porto e a Ericeira, conforme as condições do mar e a época do ano em que estou. Aqui em cima treino mais a parte física.
Notas muitas diferenças entre as ondas?
Lá em baixo, sem dúvida que consigo encontrar melhores ondas e mais consistentes. Por exemplo, da Ericeira a Peniche temos sempre boas condições para surfar. Por seu turno, aqui em cima, também há boas ondas e menos exploradas, o que acaba por dar para fazer coisas diferentes, principalmente a nível fotográfico. Além disso, o meu preparador físico vive cá e, durante a época baixa de competição, venho treinar com ele, o que me obriga às vezes a ficar no Porto um mês ou dois, ou o tempo que for preciso, para treinar a parte física, que é super importante para evitar lesões.
E no surf fora de competição. Notas também alguma diferença?
Noto que lá em baixo há mais nível dentro de água. Há ondas de melhor qualidade, como os Supertubos, os Coxos ou outras ondas naquela zona. A chamada “nata” do surf nacional acaba por se concentrar ali e dá para ver a evolução deles e acompanhá-la.
E como vês essa evolução aqui?
O surf no Norte está a evoluir imenso, tanto ao nível das escolas como ao nível de surfistas. Começamos a ver cada vez mais atletas, como é o caso do Tomás Ferreira – que fez o heat comigo e passou (fiquei super contente por ele) – , o que acaba por ser um reflexo dessa evolução. Também temos o João Maria André. São os melhores juniores daqui do Norte, o que é óptimo de ver. Já há uma nova geração e pessoal com pica, para além do excelente trabalho de algumas escolas de surf nesse sentido.
Durante muito tempo foste praticamente o único surfista do Norte a correr o circuito nacional. Como era?
Acho que é um bocado o reflexo do nível de surf que há no Norte e no Sul. Há muitos surfistas por todo o país, mas na região de Lisboa, muito por causa das escolas, o desporto tem-se desenvolvido mais. No campeonato nacional, a regra mantém-se e existem mais surfistas do circuito que são de lá. O trabalho que se está a começar a fazer aqui no Porto, de há três anos para cá, é um trabalho que em Lisboa tem 15 ou mais anos e é normal que já esteja a dar mais frutos. Mas com o trabalho das escolas, começamos a ver mais surfistas aqui do Porto, o que é óptimo porque estava farto de ser o único [risos].
Qual é a sensação de seres o primeiro surfista desta zona a sagrar-se campeão nacional?
Fico super contente de representar o Porto. Dá-me muita pica estar a representar a minha cidade e isso para mim foi das coisas mais gratificantes a nível profissional.
Bruno Rodrigues diz-te alguma coisa [foi o primeiro surfista do Norte a vencer uma etapa no Nacional, além de ter representado a selecção portuguesa na Califórnia]?
Claro que diz. É um grande surfista aqui do Norte, mais uma lenda viva e gosto muito que se toque no nome dele. É de facto uma grande referência e uma grande exemplo para mim, não só como surfista mas como pessoa.
E objectivos para este ano.
Vou correr o Nacional e o Europeu, onde espero ficar nos 16 primeiros lugares. E ser campeão nacional… vamos lá ver [mais risos].
O ditado diz que filho de peixe sabe nadar, mas neste caso podemos usar surfar. És filho de pai surfista, correcto?
É verdade, sim senhor. É ele o responsável pelo meu gosto pelo surf. Comecei a surfar com o meu pai e ele já o fazia antes de eu nascer. Sempre me acompanhou. Sempre fez free surf, mas acho que chegou a participar numa daquelas competições que houve em Portugal há muitos anos. Mas o desporto dele mesmo era o ténis. Competiu em várias provas e foi mesmo profissional. Basicamente, o que faço no surf ele fez no ténis. Mas sem dúvida alguma que continuamos a surfar juntos, apesar de ele agora viver em Cabo Verde. Às vezes, vou lá surfar com ele, outras vezes é ele que vem cá. Seja de que maneira for, tentamos sempre surfar juntos.
A geração de surfistas na tua família está a crescer. Andas a ensinar o teu irmão a surfar?
É verdade. Devagarinho, estamos a tentar pô-lo na água. Ele tem seis anos e está mais do que na idade. Com o meu pai em Cabo Verde e comigo a andar de um lado para o outro, acabamos por não estar muito tempo com ele para o ajudar nessa área, mas sem dúvida que vamos continuar. Já no Verão passado começou e este ano vai continuar. Vamos tentar com que faça um trabalho mais seguido, porque ele agora também está mais crescido e tem menos receio. Vamos ver se ele ganha o gosto.
Por Beatriz Silva, in http://www.ionline.pt/