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Jorge Sousa Braga

Jorge Sousa Braga

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1.
Quando lhe perguntei onde
se inspirava disse no café

e logo ali o vi diante da folha
de papel em branco

à espera que brotasse
a mais daninha das ervas

2.
Este poeta
só podia conduzir
um Ford

3.
EM VIAGEM

No pára arranca
na rua da Constituição
à espera que o semáforo
mude para verde

Ao volante de um BMW cor de cinza
a chorar lágrimas verdadeiras
enquanto assiste ao próprio enterro

Ao volante de um Bogatti branco
numa noite de lua cheia
na marginal

Ao volante dum Ford
a ouvir silenciosa e doce
a música branca
das trombetas dos anjos

Sentado no banco de trás
duma limousine negra
que circula a cem à hora na rodovia de Braga
sem ninguém ao volante

4.
EXISTENCIALISMO SEGUNDO JSB

Não há nada como uma tranquila lua de mel na Sibéria
Não há razão para entrarem em pânico
Não há lenço que chegue para limpar o ranho do universo
Ele sabe que não há saída possível
Rios há que em lugar de correrem para a foz, correm para a nascente
Há quem tenha uma pedra no coração
Momento há – é doloroso reconhecê-lo – em que até o universo é uma prisão
Não sei se ainda há plátanos no Jardim da Cordoaria
LÍRIO ROXO: Será este o lírio que há no delírio?
Será que não há nabo para além do nabo?
Não há duas estrelas iguais
Há estrelas que escapam à nossa compreensão
Não há nada mais triste que um cemitério de estrelas
Desconfio que há homens que quando morrem se transformam em buracos negros
Não há nada como o espetáculo de alguns electrões acelerados
Não há relação entre a violência do mundo e as flores da couve
Há quem prefira o território da sombra
Não há sono mais pesado que o das pedras
Em cada flor há um cadáver, em cada cadáver há uma flor
Não há nada mais triste do que um cu triste
Há quem adivinhe nas vísceras dos peixes o futuro
Há também quem diga que o azul é o invisível tornado visível
Não há melhor lugar para meditar do que a cauda de um tufão
Há quem se atreva a florir em pleno inverno
Não há pior traição do que ser abandonado pela própria sombra

Há! Há! Há!

5.
CONTRIBUTOS PARA O TRATADO SOBRE A MERDA DE JSB

A merda
não é boa nem má
é merda

A merda
é merda
e mais nada

Merda que é merda
não se mistura
com a merda

A merda
nunca passa
de validade

6.
CRITICA LITERÁRIA AO TRATADO SOBRE A MERDA DE JSB

1.
Finalmente um poeta inspirado pela merda. (Jornal de Letras)

2.
Este poeta tem o dom da multiplicação da merda. (Jornal de Notícias)

3.
Merda merda merda merda para a merda que escreve. (Expresso)

4.
Este livro é uma merda. (Observador)

5.
Mas que merda é esta?! (Renascença)

6.
Este livro cheira mal. (Smooth FM)

7.
Dos haikus deste poeta só sai merda. (Correio da Manhã)

8.
Admirável o poeta que come as próprias fezes. (Ricardo Araújo Pereira)

9.
Aqui está um poeta que se está a cagar para o cânone e, em especial, para os críticos. Tal e qual como eu. (Diogo Vaz Pinto in Nascer do Sol)

Por PML

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