JOSÉ António Lopes Pinto da Silva nasceu em 1924, em Vale de Bouro, Celorico de Bastos. Mas em 1961veio morar para a Póvoa de Varzim, onde foi Barbeiro, arte que aprendeu aos 13 e exerceu até aos 84 anos. Antes de se dedicar a tempo inteiro a cortar cabelos, ainda experimentou outras profissões: sapateiro, mineiro e comerciante. “Nasci numa família humilde onde todos os braços eram necessários para enganar a fome. Por isso, com 11 anos e a 4ª classe feita, fui aprender a arte de sapateiro. Fazia tamancos de pau e fabricávamos muito calçado para a Lixa. Mas como sempre quis ser barbeiro e cabeleireiro, deixei os couros e fui aprender a arte para um salão da terra. Cortar a barba e cabelo custava 15 tostões (0,75 cêntimos). Ganhava muito pouco e, aos 15 anos, fui trabalhar para as minas de volfrâmio, de Cerva, Cabeceiras de Bastos. Foram seis anos a entrar às seis da manhã, de segunda a sábado. Trabalhava nas oficinas, levava o ferro apontado para os mineiros e trazia outro para o ferreiro amolar e temperar. No final do trabalho, ainda me agarrava a cortar cabelos até à meia-noite. Aos domingos, de manhã cedo, corria as portas da freguesia a cortar barbas e cabelos. Ganhava mais do que a trabalhar a semana inteira para o patrão. Até casar, mudei-me dois anos para as minas da Borralha, perto da Barragem de Venda Nova. Trabalhava e dormia de segunda a sexta. Aos sábados e domingos usava a tesoura na minha aldeia”.
Aos 24 anos de idade, José António casa com Maria da Conceição, que lhe veio a dar oito filhos e a necessidade de uma vida melhor. “O trabalho nas minas da Borralha era de escravo e dava cabo da saúde. Passava o dia no meio do pó a carregar entulho para umas barricas e a arrastar. Para não gastar o dinheiro na farmácia, deixei de ser toupeira e entrei no negócio da fruta. Comecei a comprar pomares de laranjas e a vender para o mercado abastecedor do Porto. Um dia de Junho fui à invicta receber e meti-me no comboio a vapor até à Póvoa, à procura de barbearias. No Verão não faltava cá trabalho. Fiquei no salão Sousa Bastos, na Rua dos Cafés, até finais de Setembro. O meu primeiro teste foi cortar o cabelo ao comandante do quartel. Durante vários anos vim trabalhar cá nos meses de Verão e fazia duas épocas nas termas de Monfortinho, de fins de Março a princípios de Junho e de fins de Setembro a princípios de Dezembro. Nos outros meses vendia fruta”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA