JOSÉ Manuel Monteiro Nunes nasceu em 1958 na maternidade de Cedofeita, mas está registado na Póvoa de Varzim. Fez o ensino primário na Escola do Grémio. Depois de concluir a antiga 6.ª classe, com o falecimento do pai, deixou os estudos e empregou-se na oficina de ourivesaria de Miguel Andrade. Cerca de um ano e meio depois, em 1974, mudou-se para a Ourivesaria Tavares, de onde não mais saiu. Actualmente, é o encarregado das oficinas. É casado com Maria de Fátima Nunes e tem dois filhos.
“Quando fui trabalhar na firma Miguel Andrade, na rua Tenente Valadim, a oficina já pertencia ao José Carriço. A primeira coisa que me disse foi que ali só se criavam bons profissionais. Por isso, se não me adaptasse ao serviço ia embora. Era uma oficina de ourivesaria que só fabricava. Fui aprendendo e adaptando-me aos métodos de trabalho e rapidamente me puseram na banca a fazer obra com os oficiais. Um ano e uns meses depois, o senhor Carriço mudou as instalações para Beiriz e levou apenas os oficiais, deixando os aprendizes no desemprego. Passados oito dias já estava a trabalhar na Ourivesaria Tavares. Entrei em Julho de 1974 e não tarda faz 44 anos que cá estou”, contou à nossa reportagem.
Como a entrada ao trabalho coincidiu com o início do Verão, Manuel Nunes recorda que a ourivesaria recebia diariamente uma avalanche de pessoas: “Era uma época em que se faziam muitos consertos, mas também muita obra nova. O senhor Miguel Tavares levou-me às oficinas e apresentou-me ao encarregado, Guedes Carvalho, um ourives joalheiro muito criativo, dizendo para me colocar à banca porque já sabia soldar. Inicialmente, quando os moços vinham para a oficina era para ajudar os oficiais, fazer os polimentos, lavar as peças, entre outros serviços, mas meteu-me logo à banca e a fazer alguns consertos”.
Logo nos primeiros dias recebeu uma lição para a vida: “Vinha de uma oficina onde só se fabricava e na Ourivesaria Tavares, para além do fabrico, faziam-se muitas reparações. No Verão era trabalho diário. Os consertos eram acompanhados por um talão onde vinha descriminado o que deveria ser feito na peça. Entregaram-me um brinco para reparar. Parece que ainda o estou a ver, em ouro amarelo, com uma pedrinha azul ao centro, cravada em losango. Nem me dei ao cuidado de ler o papel. Vi que o brinco estava partido, faltava-lhe uma folha. Fui à caixa do ouro, tirei um bocadinho e completei o brinco. Como o serviço ficou impecável, enchi o peito e fui mostrar ao senhor Carvalho. O encarregado reconheceu que o trabalho estava bem feito, mas disse-me que era só para soldar e eu completei o brinco, por isso havia o risco do cliente não querer pagar. Murchei no orgulho, mesmo quando o senhor Miguel acrescentou que falaria com o cliente e resolveria o problema, mas recordou-me para a ler os cartões e me habituar a fazer só o que lá estava escrito. Certo é que depressa o encarregado viu as minhas capacidades e quando o Verão passou pôs-me a fabricar peças novas ao seu lado”.
Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA.