O LUÍS é o maestro (im)perfeito da sua vida atribulada, na correria para o equilíbrio das mil funções. A música ganhou terreno na sua condição muito cedo. Com 6 anos, ingressou na Associação Musical de Pedroso em Gaia, e fez o plano do Conservatório até ao 7º ano, altura em que lhe foi permitido desistir pelos pais, escolha que lhe concedeu a oportunidade de abarcar o Rock, o Jazz, o Funk e o Blues. Hoje com 33 anos, é músico e professor do mesmo ofício, ensinando guitarra, piano, formação musical, combo e harmonia na Academia Valentim de Carvalho, no Colégio Luso Internacional do Porto e na Academia Breyner, para além das aulas particulares.
Mas não só. Quem o conhece bem, sabe que não consegue estar sem se envolver com a música, ocupando-se com inúmeras bandas, tanto como músico contratado, como com a sua orientação original. Assim, integra o projecto da jovem Kika, o rock original e cada vez mais alternativo de Freud & Eu, o soul de Black Coffee, o plano sem nome mas com futuro delineado por Daniela Maia (remédio aqui), a electrónica de Rádio Pandora, e os tributos à história do rock de Rock n’ Rolla e a The Doors, com The Lizard King. Ainda arranja tempo para algo que não o diminui ou envergonha de forma nenhuma, e corre os hotéis em casamentos ou outros eventos, tocando os básicos do jazz.
O Luís refere, com tranquilidade, que toda esta pressa é muito orgânica, apesar de ter muito que fazer. Para isso, conta com uma memória invejável e uma agenda sempre muito preenchida, e reforça que o trabalho com outros músicos é a melhor escola que podia ter. Confessa ter apenas pena de não ter tanta disponibilidade para a Orquestra de Guitarras e Baixos Eléctricos, pois refere ser um conceito incrível e único numa área ainda pouco percorrida.
Porém, não foi nestas andanças que fundamentou os seus estudos académicos. Estudou na hoje extinta Escola Superior de Jornalismo do Porto e foi estagiar para o Primeiro de Janeiro quando ainda estava a aprender, ficando lá a trabalhar durante cerca de 2 anos. Acabou por seguir por outro caminho porque a música lhe conferia melhores perspectivas monetárias, mas continua a escrever, para além das letras das músicas que elabora. No ar, ficou a promessa de finalizar um livro que se encontra inacabado há 7 anos, pela falta de motivos ou forças que o apelem a escrever.
Numa altura em que os seus encargos já exigiam algum estudo, decidiu concorrer à Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, mas infelizmente foi o ano em que as vagas diminuíram, e não conseguiu entrar. O seu objectivo não passava por obter um canudo, mas antes aprender com pessoas que considera serem inspiradoras, com vocabulários, visões e gramáticas musicais grandes e, por isso, em breve irá começar a descobrir outros ensinamentos com Nuno Ferreira, a sua escolha do momento.
O Luís refere que tem algumas dificuldades em dividir a música em caixas ou gavetas bem definidas, sabendo que, no entanto, cada estilo tem as suas características. Afirma que cada vez mais vê a música como um todo e não consegue ficar confinado e limitado a um só género, gostando de beber de outras inspirações, libertando-se. Nas suas inúmeras bandas, declara que tem diferentes vertentes, fazendo música egoísta em algumas delas, e para agradar e animar o público noutras. Contudo, admite que, quanto mais pensa naquilo que vai cativar o público, mais se limita e distancia do que quer e deve fazer, sendo que a verdadeira arte é relaxar e deixar a música fluir naturalmente. Menciona a importância de não haver preconceitos com quem faz música, mas que esta deve ser aceite pela sua qualidade, levando-a a sério.
A sua capacidade de liderança emerge a cada palavra que pronúncia, dizendo que é sempre complicado, já que ninguém quer realmente comandar as tropas. Ainda assim, reconhece que tem jeito para exercer a sua “ditadura democrática”, para fazer com que as coisas sejam mais expeditas e funcionem correctamente. Com o passar dos anos, tem aprendido a largar o lado de líder e tido cada vez menos sofreguidão por saber que existe sempre tempo para mostrar aquilo que é capaz de fazer.
Como tudo aquilo que mais defende, o Luís ensina todos os que o rodeiam, principalmente a saber estar, a saber ser. A mim, mostrou-me que a música nunca acaba e que a sua grande mais-valia é a insegurança de deixar de parte a perfeição, sabendo que esta vulnerabilidade é aquilo que mais nos faz crescer e continuar, usufruindo do palco, dos momentos e do presente. Este é o maior segredo dele, esta é a sua maior lição.
Obrigada Luís!
Por Raquel Caldevilla publicado in http://raquelcaldevilla.blogspot.pt/