A VIDA de Luísa Bastos confunde-se com a sua ligação à Universidade do Porto. Afinal, foi ali que chegou aos 18 anos como “aspirante” a engenheira geográfica. E é ali que, mais de 40 anos depois, continua a desenvolver um papel de relevo como docente, investigadora e diretora do Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros, estrutura onde encabeçou a recuperação do Grande Telescópio, inaugurado em julho deste ano depois de décadas de inatividade.
Licenciada em Engenharia Geográfica pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) em 1972, Luísa Bastos ingressou em 1978 no Observatório Astronómico, tendo começado por desenvolver trabalhos nas áreas de Astronomia e de Geodesia Espacial. A partir de 1984 realizou diversos estágios nos Estados Unidos e na Alemanha no âmbito do posicionamento por satélite (GPS) e, em 1991, concluiu, na FCUP, o doutoramento em Engenharia Geográfica.
Como docente, tem lecionado diferentes disciplinas da área de Engenharia Geográfica, bem como supervisionado teses de doutoramento e mestrado no domínio do posicionamento por satélite. Em paralelo, dedica-se ao desenvolvimento de aplicações do GPS nos mais diversos domínios. Investigadora Principal da FCUP, integrou entre 2010 e 2015 o “Mission Evolution Advisory Group”, grupo de peritos da UE para aconselhamento da Comissão Europeia no domínio dos sistemas europeus de navegação por satélite.
Em 1997 foi nomeada diretora do Observatório Astronómico, cargo que ocupa até à atualidade. Foi de resto sob a sua direção que o Observatório conheceu um importante processo de preservação/renovação nos últimos anos, do qual se destaca a recuperação do Círculo Meridiano de Espelho e, mais recentemente, do Telescópio de 30”, o maior do país. Inaugurado no passado dia 2 de julho, este equipamento único em Portugal será utilizado para o ensino e investigação nas áreas da Astronomia e da Astrofísica, mas também como espaço de divulgação científica dirigido a todos os públicos. “Estão criadas condições para que o Observatório Astronómico possa cumprir a sua missão, de apoio ao ensino e à divulgação de ciência e tecnologia, tirando partido de um património que faz também parte da história do desenvolvimento da Astronomia em Portugal”, projeta a docente.
Ao longo dos quase 40 anos ao serviço da U.Porto, Luísa Bastos, integrou outros orgãos de gestão da Universidade. Entre eles incluem-se a Assembleia de Representantes da FCUP, a Assembleia de Representantes da U.Porto, a direcão do IRIC (Instituto de Iniciativas e Recursos Comuns), a vice-presidência do DGAOT (Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território), a direção do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e a direcão do Pólo do Mar do UPTEC, “experiências enriquecedoras” que lhe permitiram “conhecer melhor todo o universo da Universidade do Porto”.
Naturalidade?
Padronelo, Amarante.
Idade?
61 anos.
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Da sua história e da capacidade que tem tido de se renovar. A transformação que que se iniciou há alguns anos no sentido de, mantendo a identidade das diferentes faculdades, sermos uma só Universidade é um exemplo dessa renovação. Destaco também a capacidade de mobilização, que tive o prazer de testemunhar, em torno do preservação património da Universidade, que é de todos os seus membros.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Da dispersão geográfica que não facilita a interação, e de alguma dificuldade em conseguir um melhor aproveitamento do enorme potencial de Recursos Humanos existente.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Reforçar a formação multidisciplinar explorando ainda mais a colaboração inter-faculdades com as suas diferentes valências e visões do mundo. Investir mais na divulgação da sua história, nomeadamente entre os membros da própria comunidade universitária. Conhecer o passado favorece um melhor desenvolvimento futuro.
– Como prefere passar os tempos livres?
Na companhia da família e amigos, a ler e, de vez em quando, a cozinhar. Também gosto de praticar desporto, embora agora a disponibilidade seja reduzida.
– Um livro preferido?
Não tenho um livro preferido. Há vários que, por motivos diversos, me cativaram. Refiro por exemplo “O Nome da Rosa” (Umberto Eco) pela força da narrativa que nos transporta para outra época e local, e pelo tema em si. Curiosamente a visualização do filme mostrou que nem sempre a imagem vale mais do que as palavras. Há outros livros/autores de que gostei particularmente, pela forma como abordam as relações humanas, como por exemplo “A insustentável leveza do ser” (Milan Kundera) ou “Atlas de geografía humana” (Almudena Grandes), ou pela inteligência da crítica social, como as obras de Torrente Ballester ou de Eça de Queirós.
– Um disco/músico preferido?
É difícil eleger uma música, já que há muitas, e de diferentes tipos, de que gosto. A eleger um músico(s) seriam os Beatles, com muitas músicas que marcaram a minha adolescência (“Yesterday”, “The fool on the Hill”, “We can work it out”, “When I’m Sixty-Four”…), e que, pela sua qualidade, se vão eternizando também na voz de outros cantores. Gosto também bastante de música brasileira, em especial Maria Bethânia e Ney Matogrosso, que considero intérpretes fabulosos.
– Um prato preferido?
Perdiz de fricassé (confecionada pela minha mãe).
– Um filme preferido?
Há vários filmes de que gostei especialmente. 2001 Odisseia no Espaço, uma realização notável de Stanley Kubrick, que vi na adolescência, é sem dúvida um deles. Fascinou-me na altura pela visão futurista dos desenvolvimentos tecnológicos, e depois pela forma como vamos vendo o desenvolvimento da tecnologia tornar a ficção uma realidade. Entre outros filmes de que mais gostei estão os de Charlie Chaplin e de Woody Allen pela forma como captam os modelos de sociedade e as relações interpessoais.
– Uma viagem de sonho?
Tibete (por realizar), pela sensação de estar num dos locais mais altos da Terra e pela serenidade que o seu povo transmite.
– Um objetivo de vida?
Tentar responder aos desafios profissionais e pessoais o melhor possível, mantendo sempre presentes os princípios éticos que me foram incutidos. Procurar caminhar com os outros e não contra os outros.
– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)
Todos aqueles que nos mostram que, com persistência e determinação, se podem alcançar feitos notáveis. Noutro registo, o sorriso do meu neto, de 4 meses, é uma inspiração e uma motivação adicional para contribuir para uma sociedade melhor.
– O projeto da sua vida…
A vida vai-se fazendo de diferentes projetos, de sucessos e insucessos, através dos quais a nossa experiência se vai enriquecendo e vamos tentando atingir algum grau de realização pessoal. A nível profissional, o objetivo foi sempre trabalhar na investigação no domínio das ciências do espaço. Presentemente veria com muita satisfação a implementação de um projeto de construção, no Observatório Astronómico, de um Parque Temático para divulgação das Ciências do Espaço.
– Uma ideia para promover as Ciências do Espaço em Portugal?
Melhorar a oferta de formação em Tecnologias Espaciais (Observação da Terra e Posicionamento por satélite), nomeadamente a nível da U.Porto, e promover uma maior divulgação do potencial e relevância de aplicação destas tecnologias no dia a dia do cidadão comum.
Por Tiago Reis publicado in http://noticias.up.pt/