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Manuel da Silva Rei (1950)

Manuel da Silva Rei (1950)

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MANUEL da Silva Rei nasceu em Barcelos em 1950, mas ainda menino veio viver para uma família adoptiva da Póvoa de Varzim. Fez a escola primária na Poça da Barca e herdou a arte de funileiro do seu pai adoptivo. Em 1983, foi um dos fundadores do Grupo de Alcoólicos Anónimos Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Também foi árbitro de futebol no Inter-Freguesias e, desde 1991,é vice-presidente das actividades desportivas da Associação da Matriz. Casado com Conceição Martins, tem um casal de filhos. “A escola era no edifício onde o meu pai tinha a oficina de funileiro. Como o recreio era na rua, o meu pai apanhava-me e ia para a oficina ajudar. Aos 10 anos já fazia baús de folheta para os pescadores levarem a comida para o mar, e cornetas para os bacalhoeiros. Com nevoeiro, os pescadores tocavam a corneta para sinalizar a sua posição. Muitos usavam um corno de boi ou um búzio, mas puxava muito pelo pulmão. Fiz uma corneta grande, com duas palhetas, que ficou celebre na claque do Varzim. Na zona onde fui criado, na Poça da Barca e Caxinas, entre os pescadores havia a tradição do mata-bicho, um bagacinho ou um traçadinho. Cresci naquele ambiente e acabei por me perder com a bebida. Tornei-me um alcoólico. Depois percebi que quem me criou não tinha Rei no nome. Cresci na dúvida e só quando comecei a ganhar tino é que me apresentaram a minha verdadeira mãe. Só agora estou a conhecer a família do meu pai. Já descobri duas irmãs e um irmão”.

O alcoolismo marcou uma época da vida de Manuel Rei: “é difícil viver com duas personalidades. Era elogiado pelo meu trabalho de artista e criticado por ser bêbado. Um bebedor desculpa-se no álcool, acobarda-se, gosta da palavra coitadinho. Estive no Ultramar entre 1972 e 74, deram-me uma medalha e um diploma por actos heróicos. Digo sempre para trocarem heroísmo por alcoolismo. Eu só pratiquei actos heroicos porque estava bêbado. Eu vivia para beber. Depois da tropa trabalhei no Quintas & Quintas, como funileiro e picheleiro. Todos os dias ia à tasca do Bandeira beber uns bagacinhos. No final do trabalho corria as tascas todas até casa. É um ciclo vicioso, uma doença”.

Aos 33 anos, Manuel Rei decidiu parar de beber: “foram as palavras do Bispo de Braga que mexeram comigo. Em Fevereiro de 1983, eu e o Manuel Barbeiro fizemos um cenário em chapa para um espectáculo de recolha de fundos para o MAPADI. Criei um rio a nascer na montanha e a desaguar num açude debaixo de uma ponte, formando um espelho de água onde o Frei Hermano da Câmara cantava. No final do espectáculo, Dom Eurico Nogueira perguntou-me como era possível construir um cenário magnífico e, ao mesmo tempo, ter atitudes satânicas de ofensa à família. Foi o suficiente para eu perceber que tinha que parar de beber. Fui pedir ajuda ao Manuel Tavares, um anjo na terra, que me levou a Braga para fazer uma desintoxicação. Estive internado 22 dias. Saí cheio de esperança e, a 16 de Junho desse ano, fundei o Grupo de Alcoólicos Anónimos Póvoa e Vila do Conde. Ainda hoje as nossas reuniões semanais, às terças-feiras, são na sede da Junta de Freguesia. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber”.

Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA.

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