MARIA Gomes Ferreira nasceu em 1932, em Aver-o-Mar. Fez a primária na Escola dos Leões e os exames da 3ª e 4ª classe na Escola dos Refojos. É casada com David Leite e ofereceu o mundo a três raparigas e um rapaz. Filha de lavradores, Maria cresceu a trabalhar as terras, aprendeu costura e tornou-se empresária do ramo imobiliário. “Não estudei mais porque não quis, embora gostasse muito de ler. A minha mãe queria que fosse professora mas eu pretendia ser modista. Aprendi a costurar e ainda hoje faço umas coisas. Mas aos 18 anos, com a minha mãe doente e o meu pai cansado da idade, deixei a costura e comecei a gerir as nossas terras por não concordar vendê-las. Comprei uma vaca ao Alexandrino e o meu irmão fez o carro. A vaca era muito mansinha e trabalhadora mas, como só dava 5 litros de leite, acabei por a vender. Compramos outra vaca que dava 30 litros de leite para vender à vizinhança. As «Latas» eram minhas jornaleiras e com muito suor e trabalho tratei dos terrenos da família. Tinha uma banca no mercado, mas também fazia feiras. Levava os produtos agrícolas no carro da vaca ou na carroça de um amigo da família. Pagava-se bilhete por carreto. No início havia um bilheteiro, o pai do Quim Touguinha, numa casa frente ao Zé das Letras. Havia outro em Barreiros. Mais tarde a cobrança passou para as portas do mercado. Só deixei a lavoura depois de casar”.
Aos 22 anos de idade, a vida de Maria Ferreira seguiu o rumo e a sorte do marido: “a nossa casa era farta e com muitos animais, mas a agricultura dava muito trabalho e pouco dinheiro. Os agricultores começaram a vender os seus terrenos, mas eu só pensava em construir. Apareceu o David Carpinteiro, o moço começou a meter conversa mas, como era muito atrevido, zanguei-me com ele. Feitas as pazes começamos a namorar só ao domingo. Um ano depois disse-me que ia para o Brasil tratar do futuro e que um dia me levava. Recusei a oferta e acertamos o casamento. Pedimos o dinheiro emprestado e construímos a casa e uma oficina de carpintaria, onde hoje é o Restaurante Tourigalo. Criamos uma empresa e o David começou a ter sorte. Apareceu um arquitecto que nos ajudou a ganhar muito dinheiro. Tínhamos uma loja frente à Escola dos Sininhos onde se vendia muita mobília. Começamos aos poucos a construir nos nossos terrenos e a alugar o edificado. A vida encontrou-se com a sorte e foi-se compondo”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA