A FACULDADE de Letras da Universidade do Porto (FLUP) tem sido a casa Maria João Reynaud ao longo dos últimos trinta e oito anos. Mas hoje, como há quase quatro décadas, “ensinar é continuar a aprender” para esta professora e investigadora que faz de “A Palavra Imperfeita” o tema da sua Última Lição na instituição. Maria João Reynaud é Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos), onde ensina Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. É também Investigadora do CITCEM, I&D / FCT (Multiculturalidade e Diálogo Internacional).
A música é a sua maior inspiração. A música antes de tudo. O seu percurso na FLUP foi uma “forma plena de realização pessoal: não só por poder ensinar aquilo de que mais gosto, a literatura portuguesa moderna e contemporânea, mas pela permanente renovação a que os alunos me obrigaram. Ensinar é continuar a aprender. Por isso, não poderia desejar mais…”
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Gosto da capacidade que esta Universidade tem demonstrado na formação e na investigação, dando continuidade ao elevado prestígio que angariou desde a sua fundação, em 22 de Março de 1911. Gosto da sua crescente projeção nacional e internacional. Gosto daqueles que nela defendem os princípios democráticos em que me reconheço, dentro da tradição de liberdade que é própria da cidade onde nasci.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Da progressiva «funcionalização» dos professores, que veio alterar profundamente a sua relação com a Instituição. Da lógica da infabilidade dos números; das «estatísticas», sujeitas, porém, às mais variadas interpretações. Da trajetória que tem vindo a sobrevalorizar a quantidade em detrimento da qualidade…
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Refletir sobre o papel das Humanidades na formação universitária. O acelerado enfraquecimento da sua presença (a que estamos atualmente a assistir), afastará de modo irremediável a Universidade da missão humanista que fez dela um lugar de pensamento.
– Como prefere passar os tempos livres?
A ler, a escrever, a ouvir música. Gosto muito de ver o mar de perto. E de andar a pé no Parque da Cidade…
– Um livro preferido?
Siddhartha, de Hermann Hesse. É um livro breve, de uma beleza fulgurante. Um manual de sabedoria onde se aprende que corpo e alma são um só. Mas, se pudesse salvar um livro de uma catástrofe, seria A Mensagem de Fernando Pessoa. O moderno breviário poético da nossa história.
– Um disco preferido?
Gostei da palavra «disco»! Rejuvenesce-me… O meu CD preferido? É uma pergunta incrivelmente difícil! Neste momento, é a Sétima Sinfonia de Bruckner. Mas como não escolher o “Porto Sentido”, de Rui Veloso e Carlos Tê?
– Um prato preferido?
Bacalhau à Braz.
– Um filme preferido?
Fanny e Alexender, de Ingmar Bergmann.
– Uma viagem de sonho?
Gostava de ir à Índia, nos passos de Gandhi; e ao Sri Lanka, para ouvir o que resta da nossa língua nessas paragens longínquas.
– Uma inspiração?
A música antes de tudo – «La musique avant toute chose», como diz um verso famoso de Verlaine.
– Um objetivo?
Prosseguir o meu trabalho de investigação. Tenho vários projetos. Um deles é editar correspondência ainda inédita de Júlio Dinis, que era primo direito do meu bisavô, José Joaquim Pinto Coelho, em casa de quem faleceu e que o ajudou a rever as provas de Os Fidalgos da Casa Mourisca. E, claro está, escrever…
– Como definiria o seu percurso na FLUP…
Sempre gostei de ensinar. Antes de ingressar na Faculdade de Letras, há quase trinta e oito anos, era professora efetiva do Ensino Secundário. A carreira académica permitiu-me investigar e ensinar literatura.
O meu percurso na FLUP foi uma forma plena de realização pessoal: não só por poder ensinar aquilo de que mais gosto, a literatura portuguesa moderna e contemporânea, mas pela permanente renovação a que os alunos me obrigaram. Ensinar é continuar a aprender. Por isso, não poderia desejar mais…
Por Vânia Dias publicado in http://noticias.up.pt/