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Mónica Ferraz, 1980

Mónica Ferraz, 1980

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É JÁ uma das vozes de maior sucesso a nível nacional e com uma boa projeção no estrangeiro. Mónica Ferraz é tripeira «de gema» e orgulha-se disso. Entre algumas brincadeiras com o filho, os gatos e “Ghost”, o cão, a cantora desvendou o seu passado e a sua nova etapa profissional, uma experiência que adjetiva como “fantástica”.

Voz e Glamour

As recordações dos momentos vividos, aos três anos, no palco do Teatro Sá da Bandeira, com um tutu cor-de-rosa orgulhosamente vestido, fazem-na desconfiar de que, provavelmente, não saberia viver sem o contacto com o público. “Sinto que preciso mesmo dessa adrenalina”, confessou, descontraidamente, a cantora Mónica Ferraz, que assume contrastar as “pratas e os vestidos rodados” com a máxima “simplicidade de caráter”.

E é com boa disposição e atenção focada no aparelho de monitorização do sono do pequeno Ían, o filho, que a artista portuense admite estar a viver os seus verdadeiros “Golden Days”. Depois de “dez anos de bons momentos” ao lado de João Pedro Coimbra, no projeto “Mesa”, a cantora respirou fundo e decidiu alinhar na aventura de uma carreira a solo, experiência que descreve como incrível. Já a trabalhar num novo disco, que deverá sair no primeiro semestre de 2013, Mónica olha para trás e jura não conseguir dissociar o seu percurso de vida do universo da música e da arte em geral.

Palcos de uma infância “feliz e tranquila”

A carreira artística da portuense, que nasceu a 23 de março de 1980, começou bem cedo e por opção própria, com aulas de ballet e de piano. Aliás, com apenas três anos, Mónica Ferraz conquistou um diploma da “Royal Academy of Ballet and Dance”, aspeto que contribuiu para acentuar o seu gosto pela perfeição. “Os exames de final de curso eram realizados por professores ingleses. Fazíamos o exame e depois recebíamos, ou não, o diploma, sendo que eu tive a sorte de o receber”, contou, assegurando que gosta de “fazer muito bem as coisas”. “O que faço terá de ficar bem feito, caso contrário prefiro não o fazer. Sou, desde pequena, muito disciplinada e perfecionista”, acrescentou. Desta forma,o primeiro contacto com o grande público surgiu aos três anos, num espaço portuense que será, para sempre, um dos “mais especiais” para Mónica Ferraz – o Teatro Sá da Bandeira.

De resto, é com grande saudosismo e carinho que a antiga voz dos Mesa descreve os seus tempos de menina. “Com o passar dos anos, tenho vindo a falar mais da minha infância, que foi muito tranquila e feliz”, garantiu, com um sorriso estampado no rosto. “Os meus pais proporcionaram-me várias coisas que eu gostava de poder garantir também ao meu filho”, afirmou, referindose, por exemplo, a viagens e idas ao teatro, experiências que associa bastante ao seu crescimento como pessoa. Além das aulas de piano – hoje quase um instrumento de culto para Mónica Ferraz – o percurso musical da artista passou também pela Escola de Jazz do Porto, sendo que, em 1997 e 1999, integrou o cartaz de dois conhecidos festivais: o Matosinhos Jazz e o Funchal Jazz. “Tive aulas com a professora Fátima Serro e também estudei canto lírico com o professor Rui de Luna, em Lisboa”, contou, garantindo que “o jazz é algo de que não se gosta logo à partida”, aprendendo-se a gostar. “Comigo, pelo menos, foi assim. E depois de entranhar, gosta-se eternamente”, afiançou. A moda foi outra das áreas presentes ao longo da formação profissional da portuense. “A minha irmã fazia passagem de modelos e, um dia, fui com a minha mãe à agência e perguntaram-me se queria ficar e fazer umas fotografias”, contou, esclarecendo que a experiência acabou por se estender até aos 17 anos. “Trabalhei com pessoas interessantes como a Olga Rego e o José António Tenente. Além disso, tive o prazer de conhecer os fotógrafos Luís Magone e António Gamito, que foram dois bons mestres para mim”, salientou, referindo já não se imaginar no universo da moda, talvez pelo facto de estar a trabalhar naquela que é a sua verdadeira “paixão” – a música.

“O Porto é a cidade musical”

A Invicta foi o pano de fundo constante de cada vitória conquistada pela cantora. “Sempre vivi no Porto e tenho a necessidade de estar aqui para poder criar. Posso ter ideias noutras cidades mas este é o meu porto seguro, é onde consigo focar-me”, descreveu, garantindo que nenhum outro local consegue ser tão musical. Prova disso, acrescenta Mónica, é o facto de existiram “tão bons artistas” criados junto ao Douro. “Os GNR, o Manuel Cruz e os Clã, por exemplo, estão cá. Trata-se, sem dúvida, de uma cidade muito trabalhadora”, defendeu. “Talvez o facto de não ter a agitação das outras grandes cidades faça com que as pessoas se disponham a trabalhar”, apontou Mónica, que prefere “mil vezes o Porto a Londres”, cidade “escura” na qual não se sente bem.

As próprias pessoas que percorrem as artérias portuenses são uma fonte de inspiração para a cantora, que dedicou, inclusivamente, um tema do último trabalho – “Have a Seat” – aos sem-abrigo. “Não é bonito ver pessoas a viver na rua, mas eu consigo captar a beleza delas”, sublinhou, revelando que a ideia central da música surgiu num dia em que estava sentada perto do Majestic, numa zona “onde vivem quatro ou cinco pessoas”, e começou a imaginar como seriam as suas vidas.

Apesar de todos os problemas que a cidade possa ter, Mónica Ferraz garante não trocá-la por nenhuma outra. “O Porto está em explosão, é uma cidade maravilhosa”, descreveu, recomendando os passeios pelo Infante, junto ao “lindíssimo” Palácio da Bolsa, sem esquecer uma passagem obrigatória pelo coliseu.

Uma década “de concertos incríveis” com os Mesa

Mesmo antes de alinhar a fundo como vocalista da banda portuense, Mónica Ferraz teve algumas “experiências bastante enriquecedoras” ao lado de outros artistas. Em 2001, participou no Festival RTP da canção, com “Secreta Passagem”, na sequência de uma “surpresa” realizada pelo compositor e letrista Miguel Braga, autor da canção. “O Miguel decidiu mandar uma música e depois disse-me ‘olha, Mónica, fomos selecionados’”, contou, entre gargalhadas. “Foi engraçado, mas eu não gosto de fazer parte de concursos”, acrescentou, explicando que os ambientes competitivos lhe roubam a serenidade, uma das suas caraterísticas. No ano seguinte, em 2002, surgiu o primeiro disco dos Mesa. “Eu e o João Pedro Coimbra temos um amigo em comum – músico e técnico de som – que nos apresentou. Na altura, o João andava à procura de uma voz e houve logo ali uma química musical bastante interessante”, revelou a cantora, que encara a participação na banda como “dez anos de muito bons momentos”. “Tivemos prémios, ganhámos os globos de ouro da SIC, demos concertos incríveis”, descreveu Mónica Ferraz. Entretanto, outras parcerias musicais viriam a aparecer, nomeadamente com a fadista Mafalda Arnauth e a Filarmónica Gil. “A Mafalda é uma excelente cantora. Nós tínhamos aulas no mesmo sítio, com o professor Rui de Luna, e ela sugeriu que eu participasse no disco ‘Encantamento’, que estava quase a sair. Eu já tinha feito no festival de Jazz de Matosinhos uma fusão de jazz com fado, por isso não me era estranho e ficou muito interessante”, contou. O trabalho com a Filarmónica Gil foi “inesperado”. “O Gil ligou-me e fez-me a proposta. Não estava à espera porque não nos conhecíamos pessoalmente, mas ele achou que a voz era a ideal”, frisou. Já depois de assumir o compromisso com os Mesa, a artista recebeu um convite do saxofonista Maceo Parker para fazer uma turnê nos Estados Unidos, que teve de recusar para não abandonar o trabalho desenvolvido com João Pedro Coimbra.

O “choque incrível” do trabalho a solo

Há dois anos, Mónica Ferraz decidiu iniciar uma nova aventura musical, desta vez a solo. Num registo “completamente diferente” ao do trabalho dos Mesa, lançou “Start Stop”, com temas da sua autoria cantados em inglês. “Era um disco que já queria fazer há algum tempo. Como tenho um estúdio, acabo por ter facilidade de trabalho e fui armazenando ideias na gaveta, até ganhar coragem de mostrá-las ao André Indiana, que foi o produtor”, referiu.

Para a cantora portuense, atuar a solo é “incrível”. “Quando o André ouviu os temas perguntou-me ‘és louca? O que estás a fazer com isto guardado?’”, contou, acrescentando que ”o primeiro passo, por vezes, “é o mais complicado”. “Durante dez anos tive o apoio do João, tínhamo-nos um ao outro. A solo, o choque é diferente. Sou eu contra o mundo. Mas adoro a sensação. Não é uma desvantagem, é um desafio”, garantiu, revelando-se satisfeita com a diferença de registos conseguida nos seus trabalhos. “Uma das razões pelas quais cantei em inglês foi exatamente para que as pessoas não associassem o disco aos Mesa”, explicou, afirmando que, no próximo álbum deverá voltar a ter alguns temas em português.

O feedback do público em relação ao “Start Stop” tem sido “muito bom”. “Tenho passado em algumas rádios, nomeadamente em França e no Luxemburgo. Talvez vá ter um contrato discográfico em Espanha”, desvendou a compositora, salientando, contudo, que o seu objetivo é o de vencer primeiro em Portugal. A provar que o novo trabalho conquistou o agrado do público, Mónica Ferraz foi nomeada para o título de Best Portuguese Act nos MTV Europe Music Awards 2012, que acabou por ser conquistado por Aurea. “Ser destacada, logo com o primeiro disco, no meio de tantos bons artistas portugueses é ótimo. Fiquei contente”, garantiu, confessando, contudo, que não gosta de perder.

Por vezes abordada pelo público como duas pessoas distintas – para uns a Mónica Ferraz e para outros a vocalista dos Mesa – a portuense confessa gostar do contacto com as pessoas. “É bom sinal as pessoas reconhecerem-me. Gosto desse contacto. No final dos concertos, por exemplo, adoro que as pessoas venham falar comigo porque é assim que sabemos se estamos a falhar em alguma coisa e o que podemos melhorar”, no notou, reconhecendo, com satisfação, que os portugueses estão cada vez mais recetivos às propostas nacionais. Mónica Ferraz acredita que o papel das rádios tem sido também cada vez mais importante no apoio aos artistas. “As rádios portuguesas estão a apoiar brutalmente os músicos, que era algo que não acontecia há alguns anos. E é daí que surgem muitas oportunidades de concerto”, sublinhou, garantindo que é dos espetáculos que os artistas vivem, “nunca dos discos vendidos”. A artista atua na Casa da Música, a 20 de dezembro, em estreia absoluta do formato acústico na cidade de Porto.

Desfrutar do “caos” da cidade

Nos tempos livres, não prescinde dos momentos passados no jardim da sua casa, em Vila Nova de Gaia, entre o filho e os amigos animais, os “verdadeiros donos da casa”. “Adoro mexer na terra e plantar. Gosto de ouvir música, de pintar e de andar de bicicleta com phones, para ver o que habitualmente não vejo”, revelou, sublinhando que, na altura dos ensaios dos Mesa, pedalava diariamente até à Boavista. Os passeios no centro da cidade, “no meio do caos”, são outras distrações da cantora. “Gosto de ver a agitação: parar, deixar passar os carros, ouvir as buzinadelas”, salientou.

Se o tempo voltasse atrás, a autora de “Start Stop” não apagaria nenhuma passagem da sua vida. “Arrepender? Não, não me arrependo de nada, faria tudo igual”, respondeu com prontidão. E se os últimos anos da vida da artista têm sido ricos em conquistas profissionais, os últimos nove meses trouxeram-lhe uma surpresa que abalou positivamente a sua forma de encarar o mundo. “Não há nada que explique a sensação de ser mãe. É um amor inacreditável. Ele anda comigo por todo o lado, por isso é que é bastante comunicativo, passa de colo em colo e não chora. Tudo me parece diferente. É lindo”, descreveu, com a garra de quem está pronta para vencer mais um desafio.

in http://www.viva-porto.pt/

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