ESTE O Segundo Olhar surge da confluência de algumas circunstâncias, que justificam uma breve referência. Embora avessa à constatação de marcos de temporalidades biográficas, dei-me conta que neste decorrente 2015 se completam 35 anos sobre a data da edição do meu primeiro livro de poesia (1980). Conversando com dois amigos poetas, que acrescentam à arte dos versos outras valências estéticas, surgiu a ideia de uma colectânea de poemas escolhidos a gosto do autor da recolha, justificada num posfácio e englobando eixos temático-expressivos reincidentes nos meus livros. Assim, abracei esta ideia, ladeada por um poeta editor e por um poeta antologiador.
Um terceiro vértice desta conjunção me agrada sobremaneira: o facto de ver os meus poemas publicados numa editora insular. Esta característica de coisa feita em território ilhéu provoca-me toda uma nostálgica empatia dos lugares literários do amor camoniano, dos sítios exóticos e intocados, dos banimentos e exílios de tanta gente. Parece que da sintonia destas afinidades sairá obra capaz de cativar os conviventes da poesia.
[I.L., Porto, Julho de 2015]
§
Excerto
PLENILÚNIO
O segundo olhar, uma espécie
de leitura nas vísceras
do primeiro, como os áugures
lêem no interior das aves
recém-imoladas. Fechamos os olhos
e acende-se melhor um rosto, um ângulo
incerto de janela, torres, arcos
de pontes cruzando o largo rio. Na
névoa hialina da distância
sob a pupila comungamos
o plenilúnio das imagens.
§