O ARQUITECTO Pádua Ramos, que morreu em 2005, vai ser homenageado postumamente no Porto, esta terça-feira, através da edição de um livro, que se debruça também sobre as suas facetas de designer e grande coleccionador de artes decorativas. A obra “Pádua Ramos – O educador do olhar, o visionário”, da autoria da filha, Luísa Pádua Ramos, será apresentada no Cinema Nun’ Álvares (um espaço desenhado pelo arquitecto) e nasce, segundo a autora, como “uma prova de gratidão e uma homenagem a um pai que foi fantástico em todos os aspectos”.
O livro debruça-se sobre as diferentes facetas do arquitecto, da qual a mais notável será a de coleccionador de artes decorativas, com um espólio de mais de 2.000 peças, com importantes núcleos de Arte Nova e Art Deco, que já têm integrado dezenas de exposições.
Nascido em a 22 de Janeiro de 1931 em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique, Pádua Ramos estudou em Portugal, como aluno interno no colégio Alexandre Herculano, e depois transitou para as Belas-Artes, onde se formou em arquitectura.
Acabaria por fundar um gabinete de arquitectos, o GALP, responsável por inúmeras obras especialmente no Norte de Portugal, o que tornou mais difícil o trabalho da filha para localizar, entre muitas obras em regime de colaboração, quais eram da autoria do seu pai.
As obras de concepção Pádua Ramos “serão mais de uma centena”, de acordo com a autora do livro e, de entre as saídas do seu gabinete, contam-se o hotel Infante D. Henrique, no Porto, o hotel Solverde, na Granja, ou a ampliação do Hospital de Santo António, no Porto.
“Um apaixonado por arte”
Segundo a filha, Pádua Ramos desde muito jovem se governou sozinho com os 1.500 escudos que lhe enviava o pai de África e que lhe deu alguma margem para, na companhia da futura mulher, começar a explorar a arte popular, de figuras como Rosa Ramalho, Rosa Cota ou Mistério.
“Ele sempre foi um apaixonado por arte e aquelas eram as peças mais acessíveis”, explica Luísa Pádua Ramos.
Acabou por reunir uma colecção de mais 400 peças, provenientes de todo o país que, segundo a herdeira, o arquitecto queria ver reunidas num Museu de Arte Popular em Fão, onde a família tinha residência. A oferta ao povo de Fão chegou a ser feita, mas a condição “displicente” como o espólio foi guardado levou a família a recolher as peças.
A pulsão pelo coleccionismo, que começou pela arte popular, prosseguiu pela arte indo-portuguesa e, segundo a filha, o “seu carácter visionário, a sua cultura levou-o a perceber o que iria ser valorizado” levando-o a apostar em áreas como a Arte Nova ou a Art Deco.
“As pessoas ridicularizavam [esse interesse], dizendo: ‘lá vais comprar essa coisa das florzinhas’” lembra Luísa Pádua Ramos, que foi acompanhando o pai a feiras de antiguidades, como a de Paris, para adquirir novas peças.
“Ele era um profundo conhecedor”, recorda, e tinha a capacidade de antecipação: “Quando as pessoas se começaram a interessar por Arte Nova e as peças começaram a subir de preço, já o pai estava na Art Deco. E quando as pessoas passaram para a Art Deco, já o pai estava nos anos 50″.
Interesse de vários museus
A família já teve convites do Museu do Oriente, para albergar as peças de arte indo-portuguesa, do de Aveiro, para acolher as peças de Arte Nova, e mesmo uma abordagem da Câmara do Porto, para integrar o projecto de um museu a instalar no Palacete Pinto Leite. Mas, quer por razões de segurança, quer por querer respeitar a vontade do pai de que “a colecção não se dividisse nunca”, acabou por declinar as ofertas.
Para já, a colecção encontra-se armazenada, em condições de conservação, à espera de que um dia seja possível concretizar o sonho de Pádua Ramos de integrarem um Museu de Artes Decorativas na cidade do Porto.
Pádua Ramos tem ainda uma faceta menos conhecida: a de autor de peças de mobiliário, iluminação e de peças decorativas que a família pretende comercializar, tendo já criado e registado a marca Pádua Ramos Design.
Publicado in http://porto24.pt/