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Paulo Martins da Costa, 47 anos

Paulo Martins da Costa, 47 anos

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PROFESSOR e investigador no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) e no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da U.Porto, Paulo Martins da Costa tem dedicado grande parte da sua carreira ao estudo das bactérias e dos fungos. Recentemente, esse interesse levou à descoberta de um novo composto – Neofiscalina A – cuja forte ação antibiótica pode vir a ser importante  no combate às infeções hospitalares provocadas por bactérias multirresistentes.

Médico veterinário desde 1994, este lisboeta “radicado” no Porto começou por dividir a sua atividade entre a assistência clínica a espécies pecuárias e animais de companhia e a inspeção sanitária. Em 1999, passou também a partilhar esta experiência  com os estudantes de medicina veterinária do ICBAS, onde é professor auxiliar desde 2006 nas áreas da tecnologia e segurança alimentar. Mas foi durante o doutoramento, realizado também no ICBAS, que retomou uma das questões que maior inquietação lhe tinham causado durante a sua vida profissional: quais as consequências biológicas do uso de antimicrobianos em animais de produção? Da procura de respostas surgiu a maioria das suas 44 publicações científicas, centradas essencialmente sobre potenciais vias de transmissão ao homem dos fenótipos resistentes selecionados pelos antibióticos. Pelo caminho, reuniu uma vasta coleção de microrganismos multirresistentes que têm sido preciosos para testar a eficácia antibiótica de vários compostos obtidos a partir de cianobactérias e fungos.

Foi então este trabalho, motivado pelo crescente interesse da comunidade científica na descoberta de novos antibióticos, que levou o investigador a “cruzar-se” com o Neofiscalina A, um composto descoberto num fungo marinho isolado nos mares da Tailândia e que demonstrou uma forte ação inibitória sobre bactérias multirresistentes responsáveis por infeções associadas aos cuidados de saúde, nomeadamente em pessoas afetadas por determinadas patologias (e.g. fibrose quística) ou em pessoas com próteses ou a que tenham sido aplicados cateteres.

Realizado por uma equipa multidisciplinar no quadro do Laboratório de Microbiologia e Tecnologia Alimentar (composto por investigadores do ICBAS e do CIIMAR), do qual Paulo Martins da Costa é responsável, este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto “Marbiotech – Pesquisa de compostos naturais extraídos de microrganismos marinhos para aplicações ecológicas e farmacológicas”, concluído em 2015. Aprofundar o conhecimento sobre a atividade antimicrobiana da Neofiscalina A e abrir caminho até à sua eventual utilização médica é o próximo passo de um caminho que, nos próximos três anos, vai prosseguir através do projeto “Novelmar – novos compostos marinhos com aplicações médicas e biotecnológicas”, financiado pelo Norte2020.

Naturalidade?

Lisboa.

Idade?

47 anos.

De que mais gosta na Universidade do Porto?

De ainda não lhe ter encontrado os limites. Dentro de cada Unidade Orgânica, por toda a Universidade, através dos seus graduados ou através da infinidade de conexões que a UP mantém com outras instituições, podemos conhecer e realizar muito para além do imaginado.

De que menos gosta na Universidade do Porto?

Um fervor exagerado pela normalização (pedagógica, curricular, administrativa): gera eficiência, traz previsibilidade e facilita a mobilidade, mas condiciona, na mesma medida, a inventividade e a responsabilidade de pensar.

Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Continuar a fazer a ponte entre o conhecimento, o mundo e o contexto local que a ajudou a fundar e a apoia incondicionalmente.

Como prefere passar os tempos livres?

Visitando os lugares e amigos da infância. A idade não perdoa!

Um livro preferido?

“Contos Maravilhosos” de Hermann Hesse. Em cada um dos textos podemos encontrar um pedaço de nós e de todos os livros que aqui gostaria de referir.

Um disco/músico preferido?

Qualquer um, desde que cantado pelo Caetano Veloso ou pela Elis Regina e com letras escritas pelo Leonard Cohen ou pelo Jacques Brel.

Um prato preferido?

Depende da fome… A circunstância de ensinar no domínio da tecnologia e segurança alimentar não me deixa outra alternativa.

Um filme preferido?

“Ratatui”. Entrei na sala de cinema de acompanhar as minhas filhas (e pagar o bilhete) e fiquei cativado: é divertido e criativo como deve ser o cinema, mas não deixa de nos interpelar, como é função da arte.

Uma viagem de sonho?

Todas aquelas em que me encontrei com as paisagens ou as obras de arte que, algures no passado, saltaram de um qualquer livro ou ilustração para o meu imaginário. Senti essa comunhão nos Alpes, em São Tomé e Príncipe, ou em Florença, frente ao Nascimento de Vénus de Botticelli.

Um objetivo de vida?

Resistir a tê-lo… Um objetivo daria uma motivação e um sentido concreto àquilo que faço, mas acabaria por reduzir muito a minha capacidade de olhar, interpretar e expressar.

Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

A minha família, os estudantes, as pessoas que trabalham comigo e todos aqueles que se interessam pelo bem comum.

O projeto da sua vida…

Continuar a plantar árvores… As minhas filhas já estão crescidas e a vontade de escrever um livro desaparece à leitura de um verso de Fernando Pessoa ou de um parágrafo de qualquer romance de Dostoiévski.

Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?

Saber onde mora essa comunidade. Visita-la com maior frequência, conhecer as suas necessidades e ajudá-la a conhecer e a superar os problemas que enfrenta.

Por Mariana Pizarro publicado in http://noticias.up.pt/

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