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Pedro Dias, 31 anos

Pedro Dias, 31 anos

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PERTENCER. Fazer parte. Ser merecido, caber. Ser propriedade de algo ou de alguém. Adequar-se, assentar, condizer, combinar. Há pessoas que parecem ser feitas para um sítio e para um momento, e o Pedro tem esse ar de quem está de bem com a vida, que está a viver exactamente aquilo que lhe pertence. Há 31 anos atrás, o Pedro nascia mesmo no centro de Lisboa, em São Sebastião da Pedreira e onde a maior parte dos lisboetas são oriundos. Depois, mudou-se para Carnaxide com os pais, para a típica vida suburbana dos arredores de Lisboa, dos costumes em comunidade, das conversas fáceis entre vizinhos e num lugar onde toda a gente se conhece. “Ir a Lisboa implicava fazer planos” e, por isso, aquela vida de subúrbio era o seu meio natural. Foi assim que criou as bases da sua existência, foi assim que seguiu os primeiros passos, os valores e as amizades no grupo de escuteiros, naquela familiaridade que lhe era habitual.

Na altura em que começou a estudar na Escola Secundária de Linda-a-Velha, decidiu acompanhar alguns amigos no surf. Inicialmente começou apenas por ser “cool” ou radical, por sair dos seus costumes, numa idade em que essa afirmação e diferença era fundamental. No entanto, depois ganhou um ritmo distinto nas suas importâncias e o surf adquiriu o posto de terapia, o culto das idas à praia até que o sol descesse, a sentir a pele queimada pelo sol e daqueles momentos em que está na água, tranquilo, à espera da onda perfeita. Com o tempo, foi aprendendo mais sobre este seu gosto, descobrindo novos conceitos e determinações, e elegeu o mar como o seu amor de sempre, um culto que lhe é muito próprio e que lhe deu muitos ensinamentos que incorpora na sua vida. Mais recentemente, criou um blog, “A Linha” (blogfacebook), onde emprega a sua homenagem ao mar e àqueles que vivem em função dele, aos surfistas, pescadores e outros que o enamoram.

Ainda em Lisboa, ingressou no curso de Gestão da Universidade Nova, um destino que lhe demorou 6 anos a concluir, pois não se identificava, de todo, com a vida académica. Depois disso, conheceu uma austríaca que lhe roubou o coração e que lhe deu vontade de viver fora de Portugal, de sair de casa dos pais, de experimentar outro país e outras culturas. Deu por si, então, a ir viver para a Áustria, mesmo no centro dos Alpes, rodeado de montanhas e com uma paisagem que era capaz dos suspiros mais sinceros.
Uma vez na Áustria, tinha tudo para dar certo. Era um lugar onde a Natureza era proeminente e fantástica, a qualidade de vida era invejável, vivia num país onde sentia que os seus impostos eram bem gastos e aplicados. Mas, ainda assim, sempre se imaginou num sítio diferente e percebeu imediatamente a falta que sentia do mar, a sua necessidade primária e absolutamente essencial. Três anos e meio depois e contrariamente àquilo que achava inicialmente que a sua estadia ia ser apenas temporária, decidiu voltar para o seu país.

Naquela época e em conversa com um amigo que tinha uma empresa de surf e que queria mudar a sua imagem visual, decidiu mudar as voltas ao seu caminho e ligar-se mais à cultura visual, algo que já havia pensado para si há algum tempo, mas que, de repente, lhe havia surgido. Em 2011 mudou-se, então, para o Porto, para fazer o Mestrado em Design Gráfico na Alquimia da Cor.

Numa conversa com uma amiga que conheceu entretanto, soube que ela saía à noite com turistas, enquanto lhes mostrava a cidade. Foi a curiosidade de saber mais sobre este assunto que o fizeram querer também investir nesta área do turismo que tanto gosta e começou assim a fazer de guia turístico na cidade do Porto. Com o contacto permanente com os hostels por causa das suas tours, foi também trabalhar como recepcionista no Dixo’s Oporto Hostel, um sítio que inicialmente servia para ajudar a preencher tempo e pagar contas, mas que facilmente entrou na categoria de lugar das amizades-para-a-vida.

Hoje, o Pedro é um lisboeta a mostrar o Porto, com um part-time como guia turístico e um part-time como recepcionista. Tem uma vida inteira ligada ao turismo, faz o que gosta e é bom naquilo que faz. Percebeu também o amor pelo Porto, pela vida mais dedicada ao centro da cidade e com o mar mesmo aqui ao lado. E, no caminho, adquiriu também um gosto pela fotografia, principalmente analógica, que refere ser mais pensada e objectiva, mais sincera. Para quem o quer ver, basta espreitar o que ele mostra no seu bairronosso (ver aqui).

O Pedro é perseverante e atento, algo que diz ter aprendido com os pais, apesar de ser cronicamente distraído. Nos escuteiros da sua eleição e na vida suburbana que tinha em Carnaxide, refere que adquiriu a facilidade da vida em comunidade e em grupo, da abertura ao Mundo e do desenrascanço tão português. Eu cá, acho que ele domina com maestria a arte de estar de bem com a vida, de pertencer e combinar onde quer que seja e com o mesmo desembaraço como respira.

Conheci o Pedro há relativamente pouco tempo, mas é daquelas pessoas que sabe facilmente ser de sempre. Ao mesmo tempo, temos pessoas em comum nas nossas vidas, por isso torna-se mais simples de sermos amigos, de sabermos e entendermos as coisas da mesma forma, já que as experiências passadas fazem o favor de nos unir os pensamentos, sem ser preciso falar muito, sem entrar em detalhes. Aliás, no meio duma sala, o Pedro é aquele que observa as pessoas, que sorri perante as particularidades que o unem a alguém e que sabe ser ele mesmo, mesmo quando não usa as palavras. E é isso, sem nos acertarmos previamente, é simples acertar com o Pedro.

Por Raquel Caldevilla publicado in Raquel Caldevilla

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