Na cidade velha do Porto,
no primeiro andar de um restaurante,
a uma mesa de janela,
estava eu com o poeta português Andrade,
um homem seco com gestos de adolescente.
Comíamos tripas e bebíamos o vinho da sua terra
e falávamos um tanto timidamente
das literaturas dos nossos países e da França,
voltando sempre à revolução perdida,
enquanto lá em baixo brincavam os filhos dos pobres
e bolas de sabão voavam pela rua,
bola a bola passando pela nossa janela
e voltando sempre, a correr
contra o céu azul
até se desfazerem contra os muros
sombrios das casas.
Tradução do alemão por João Barrento, in Aproximações a Eugénio de Andrade, editado pela ASA com o patrocínio a BIAL, coordenação de José da Cruz Santos e Direção gráfica de Armando Alves, 3.ª edição, abril 2002