Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que já não sei o que vim aqui fazer
já não sei se vou ao Foco dar um abraço ao meu tio
ou se vou enterrá-lo em Agramonte
se vou ao Centro de Medicina ou se vou lanchar
com a minha professora de português ou se vou adiar a tropa
ou se ando nas aulas de condução ou se vou à Feira do Livro
à Casa da Música a Serralves ao Castelo do Queijo
ao Parque da Cidade ao Brasília ou à festa do S. João
ou se vou ver o meu filho na ecografia ou
se venho para casa
mas para casa não pode ser
porque eu ando às voltas desta rotunda
desde que me conheço
aliás só saí daqui uma vez
para ir ao Brasília
experimentar a escada rolante
– foi subir e descer subir e descer
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que já me esqueci se o leão continua em cima da águia
ou se já mudaram de posição
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que um dia faço aqui um piquenique
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que já transporto cães e gatos para o outro lado da rua
só para não serem atropelados
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que já nem com as obras eu descanso
– arranjam sempre forma de fazer passar o trânsito
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que a rotunda deixou de ser uma rotunda
e passou a ser o umbigo do mundo
Ando às voltas desta rotunda há tanto tempo
que a única solução para sair daqui
vai ser andar em contramão
PML
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