1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Música de Anónimo”?
R- “Obra” é um termo, neste caso, excessivo. É uma questão de proporção, basta apenas pensar, por exemplo, na “Obra Breve” de Fiama ou na “Obra Inacabada”de Fernando Echevarría e, como sabemos, com Herberto Helder a Poesia é Toda, mas sempre de cada vez. Diria antes: deslocações, desvios, derivas, também fixações, tentativa e erro. Neste contexto, “Música de Anónimo” tem uma particularidade: reúne poemas escritos entre 2001 e 2009, que ficaram para trás em termos de publicação (anteriores aos de “Anima” e “O Lugar Que Muda o Lugar”, livros publicados na Língua Morta). Se a poesia tem alguma vocação para questionar cronologias, fins e começos definitivos, neste caso o fio do meu tempo pessoal, que vale apenas o que vale, enredou-se um pouco mais.
2- Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Digamos que escrevi estes poemas para compreender que ideia possa ser essa. Talvez o título seja uma espécie de senha ou palavra- passe, à falta de melhor: nestes poemas procura-se alguma coisa que sobrevive entre o mais pleno e o mais escasso, faces apenas da mesma matéria do mundo – isto é, música e puro anonimato. No fascínio pelo sempre outro, nos trabalhos e nos dias, no diálogo com as vozes alheias. Mas terei escrito estes poemas por achar que dizer coisas como estas não me bastava.
3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a trabalhar em dois ciclos poéticos; gostava, por exemplo, de terminar uma pequena colecção de ficções/prosas e continuar a traduzir a poeta irlandesa Sinéad Morrissey. São apenas exemplos, mas vêm à frente por alguma razão.
Publicado in Novos Livros