UMBELINA Morgado Vaz nasceu em Figueira de Castelo Rodrigo em 1930. Concluída a 3ª classe, trabalhou na agricultura e num alfaiate, durante 10 anos, onde aprendeu toda a arte de corte e costura. Em 1965, partiu para França e estabeleceu-se como costureira. “Com poucas possibilidades e muitas necessidades, de nada valeu ser boa aluna. O meu pai tirou-me da escola para ir trabalhar à jorna, nos campos, e fez o mesmo com os meus irmãos. Era a forma de a família, que sempre viveu com o que a terra produzia, ter outros rendimentos. Tudo era feito à força de braço, cavava-se e plantava-se tudo à sachola. O milho, o centeio ou o trigo, eram cegados com as foicinhas. Foi uma vida dura mas vivida com alegria. Fazíamos as ceifas e as debulhadas e depois estendia-se o pão na eira a secar. A palha era cortada e guardada para alimentar os animais, no Inverno. Naquele tempo as terras de cultivo eram muito caras e agora estão abandonadas porque ninguém quer trabalhar na lavoura. Eu também não gostava muito mas, felizmente, aos 14 anos a minha mãe achou que eu tinha que aprender costura e fui trabalhar para um alfaiate, fazer roupas por medida”.
O casamento com o poveiro Mário Sencadas trouxe pela primeira vez Umbelina Morgado para a Póvoa de Varzim: “o pai dos meus cinco filhos era um bom pedreiro de Terroso. Foi trabalhar na construção civil para Figueira e quis o destino cruzar-nos na rua. Eu tinha quase 24 anos quando nos casamos. Viemos para a Póvoa e foi quando vi o mar pela primeira vez. Fiquei encantada. Era tudo tão diferente da minha terra. As praias enchiam-se de sargaço e sargaceiras, e o mar de barcos e velas. Vivi dois anos em Terroso e depois fui para Figueira, antes de rumar para França, mas era impossível vir cá e não ver o mar”.
A procura de uma vida mais farta levou Umbelina Morgado a emigrar para França. “O meu sogro foi primeiro e depois mandou uma carta de chamada ao meu marido. Passados cinco anos, com passaporte de turista, fui eu com os três primeiros filhos. Para conseguir os papéis fui fazer limpezas. A filha mais velha ia para a escola e os dois mais novos levava-os ao colo para o meu trabalho. As patroas eram uma simpatia, diziam-me para escrever em português os nomes dos objectos, frutas e legumes. Depois escreviam por baixo em francês. Assim fui aprendendo a língua. Como mudei de casa para Fontainebleau, estabeleci-me por conta própria na costura. Fazia alguns fatos mas sobretudo roupas elegantes para senhora. Elas escolhiam o tecido, levavam revistas e encomendavam o modelo. Saíam sempre da minha casa com um sorriso e voltavam com outras propostas. Trabalhei na terra da moda com a minha arte e nunca me faltou trabalho. Soube sempre actualizar-me e cheguei a ter jovens a aprender e a costurar comigo. Tenho seis máquinas de costura, quatro em França, uma em Figueira e outra na Póvoa”. E acrescenta: “fruto de muito trabalho, construímos uma casa na minha terra e compramos um apartamento na Póvoa, onde sempre passei as minhas férias. Agora venho dois ou três meses por ano, porque não consigo passar sem o mar. Vivo em França há 50 anos. Como tenho assistência médica na doença e medicamentos gratuitos, por lá vou continuar, perto dos filhos, mas em minha casa”.
Por José Peixoto. Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA