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Valongo: líder sobre patins

Valongo: líder sobre patins

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OS jogadores são amadores, quase todos estudantes. Recebem pouco mais do que o ordenado mínimo e treinam três vezes por semana, além da sessão de ginásio à segunda-feira. O pavilhão em que deslizam é o mesmo desde 1971 e está disponível para o clube apenas quatro horas por dia, sendo necessário encaixar todos os escalões de formação nesse período. Mais de 150 atletas no total, desde os cinco anos.

Este é o retrato da Associação Desportiva de Valongo, que lidera o campeonato de hóquei em patins com três pontos de avanço sobre o campeão nacional, o FC Porto, quatro para a Oliveirense e seis para o campeão europeu e intercontinental, o Benfica.

“Para nós é novidade e vamos desfrutar. Toda a gente quer ganhar ao Valongo, somos o alvo a abater”, diz ao SOL Paulo Pereira, antigo jogador e actual treinador da equipa.

No comboio da frente desde o arranque e líder isolado a partir da 7.ª jornada, o Valongo, um histórico da modalidade já com 59 anos de existência, segue num inédito primeiro lugar à entrada para o último terço da prova. Ao fim de 19 jogos, a equipa sofreu apenas uma derrota, em Oliveira de Azeméis (9-3). O Benfica saiu derrotado de Valongo (4-3) e o FC Porto não evitou um empate em casa frente ao quarto classificado da última temporada (2-2).

“Se nos deixarem andar lá em cima mais tempo, melhor. Mais para a frente podemos ser um caso sério”, sublinha o técnico, que por enquanto considera que “o primeiro lugar está destinado ao FC Porto e Benfica”. Mas também garante que o Valongo “joga sempre para ganhar”. E nem perante o Barcelona, o adversário nos quartos-de-final da Liga Europeia, será diferente.

“Há sempre uma motivação extra em defrontar um colosso da modalidade. Este ano já derrotámos o campeão europeu. Mas receber o Barcelona é também um prémio para o clube, a cidade e os adeptos”.

Depois de quase 20 anos ausente das competições europeias, o Valongo atinge os ‘quartos’ da prova-rainha com uma equipa formada por estudantes, um professor de educação física, um empregado numa operadora telefónica e outro numa fábrica de cola de um patrocinador.

“Fazemos muito com pouco”, atira ao SOL Álvaro Figueira, presidente do clube desde 2011, realçando a luta desigual com os mais ricos: “Um mês do FC Porto ou do Benfica paga a nossa época. No Valongo a média de salários é de 500 euros e nos ‘grandes’ deve passar os 5 mil. São todos profissionais e treinam duas vezes por dia, enquanto os nossos trabalham e estudam e ao fim do dia juntam-se durante uma hora e meia para jogar hóquei”.

50 crianças a aprender a andar de patins

Há doze anos de pedra e cal na 1.ª Divisão, o clube aposta nos escalões na formação para ter um plantel barato e com qualidade. Prova disso é a média de idades, uma das mais baixas do campeonato (24 anos). Assim como a presença nas suas fileiras de campeões do mundo de sub-20 e da Europa em sub-17. O guarda-redes da Selecção principal, André Girão, de 24 anos, acaba por ser o principal destaque da equipa. “Um dos melhores do mundo”, segundo o treinador.

O Valongo movimenta mais de 150 atletas, entre os quais 50 crianças que estão a aprender a patinar, e está representado em todas as selecções nacionais. Os treinos realizam-se depois da escola, entre as 19 horas e a meia-noite, o período do dia em que o gimnodesportivo construído há mais de 40 anos é disponibilizado pela Câmara Municipal. “Tem as infra-estruturas necessárias, mas é claro que não é um pavilhão como os novos, aquecido ou arrefecido”, frisa Álvaro Figueira.

Os resultados têm levado muitos adeptos ao ringue. Apesar de a lotação de 1600 lugares nem sempre esgotar, as assistências não deixam de ser um motivo de orgulho. “Podemos gabar-nos de ser o único clube português que tem uma média de 800 a 1000 pessoas por jogo. E aqui há dias disseram-me que nem na Europa há clubes com tantas pessoas a ver os jogos”.

‘A capital do hóquei’

Quando, em 1955, um grupo de amigos de famílias mais abastadas se juntou para jogar num ringue e decidiu criar um clube de hóquei, não terá imaginado que tantos anos depois a Associação Desportiva de Valongo se tornaria o desporto-rei do concelho.

“Eram familiares meus. O meu tio-avô, os meus primos… A maior parte das famílias da zona tinha sempre alguém aqui a jogar”, explica Álvaro Figueira, ele próprio um antigo hoquista com 20 anos de carreira. Antes de assumir a presidência do clube, um cargo que o pai também já tinha exercido, andou durante duas décadas pelo automobilismo. “Agora reapareço porque o meu filho também está a jogar e arrastou-me para o clube novamente”.

O gosto pela modalidade tem passado de geração em geração em Valongo e hoje a modalidade é uma bandeira da cidade, rivalizando com as outras duas, “a lousa e a regueifa”, refere o dirigente: “Valongo é capital do hóquei. Nas outras cidades fala-se de futebol, aqui fala-se de hóquei. Não há cidade no país que viva a modalidade tão intensamente”.

Uma opinião validada pelo presidente da Câmara Municipal. “O hóquei tem uma tradição enraizada na cidade e está inscrito na informação genética dos valonguenses”, enfatiza ao SOL José Manuel Ribeiro.

A cidade está em festa e a campanha do Valongo, além de ter dado visibilidade à região, é tema de conversa obrigatório na terra. “Toda a gente comenta nas ruas e pede para o clube ser campeão. Tem sido uma loucura para ver os jogos e às vezes as equipas adversárias aproveitam-se no preço dos bilhetes”, afirma o técnico Paulo Pereira.

O título pode até nem ser o principal objectivo da época, mas, para já, o Valongo parece lançado na pele de outsider, a dar cartas dentro e fora dos ringues.

Por hugo.alegre@sol.pt publicado in SOL

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