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Wandson Lisboa, 27 anos

Wandson Lisboa, 27 anos

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QUEM anda pelos meandros do Instagram, de certeza que já se deparou com o perfil do Wandson. É aquele cujo feed nos faz sempre sorrir da forma mais sincera, que cumprimenta a nossa criança interior e nos faz soltar um suspiro por se lembrar dessa parte mais inocente que guardamos sempre.

O Wandson tem 27 anos e vive no Porto, mas é do Brasil, mais especificamente de São Luís do Maranhão, o único lugar que fazia o vôo mais rápido para Portugal, apenas a sete horas directas de distância. Tem esta doçura natural dos brasileiros, o riso fácil com aquele toque picante que nos faz querer saber mais sobre ele, numa curiosidade de admiração.

Ainda no Brasil, seguiu aquilo que mais o fascinava, fez ligação directa com as pessoas e estudou Comunicação Social. Com apenas 16 anos, entrou no Jornal do TV Mirante, afiliada da Rede Globo, como estagiário. A verdade é que enviava emails com sugestões e cartas de leitor para lá e, nessa época, foi-lhe sugerido que lá ficasse como conselheiro editorial.

Mais tarde, ainda na Mirante, foi trabalhar na rádio, lugar onde esteve muito tempo com a sua voz radiofónica e colocada no sítio certo. Percebeu que o site deles não estava muito claro, começou a brincar com isso, a tentar organizar-se e foi parar na secção da web. Por isso, faltava apenas um mês para acabar o curso de Comunicação Social e inscreveu-se noutro curso de Design Gráfico. Meses antes de vir para Portugal, trabalhou também numa agência de Design e começou a traçar o seu caminho nesta área.

Tinha vontade de se especializar mais nesse meio e, por isso, ingressou na Faculdade de Belas Artes do Porto, em Portugal e longe do seu meio. Não estava à espera de ser chamado, mas, em poucos dias de uma só semana mudou a sua vida e atirou-se de cabeça. Foi tudo muito repentino e, de certa forma, percebeu que estava a magoar a sua mãe com todas as pressas, mas sabia que tinha de ganhar asas e voar. Uma vez cá, encontrou uma vida muito pacífica e feliz, com pessoas muito queridas, pessoas que pertencem ao seu coração e que lhe fazem sentido. Foram eles que o ajudaram a suportar e segurar a paciência nas inúmeras idas e vindas do seu país, que o frustravam e quase desesperavam.

No entanto, no ano passado percebeu as saudades que tinha de casa, o colo que clamava com todas as suas forças. Com a partida inesperada e súbita da sua mãe, teve de voltar ao Brasil e regressou para cá em poucos dias, para cumprir com aquilo que se tinha proposto, muito embora isso lhe pesasse no coração.

No meio de todas estas emoções negativas, o Instagram foi o seu escape, a sua forma de mostrar graficamente aquilo que pensava e o sítio onde se sentia mais livre. Olhando para trás, nunca havia pensado que seria a sua forma de comunicar, pois antes achava que era “só uma foto”. Mas, com um novo dia aparecia uma nova maneira de ver as coisas e, lentamente, começou a acreditar muito nessa sua perspectiva, até ela lhe criar novas possibilidades. Foi assim que iniciou a sua dedicação às suas ideias, a concentrar-se naquilo que poderia fazer com os objectos mais simples e nisso abstraía-se de tudo o que tinha de mão lá atrás no cenário da sua mente, como as saudades da sua mãe e de casa, a falta de oportunidades, entre outras coisas.

Aprendeu, então, a usar o Instagram com a teoria de disfarçar as suas frustrações e tristezas. É lá que se encontra, que resolve a sua vida, que dá nomes às suas tragédias, que comunica consigo mesmo, que se deslinda nas dualidades que demonstra com o seu humor apurado. Tentou também criar outro caminho, fez um casting para o Curto Circuito da Sic Radical e para a RTP, para se deparar com a melhor parte de si mesmo, a mesma que redescobriu no Instagram e que não quer deixar esquecida.

Percebeu que a pessoa que o motivava mais era a sua mãe e que agora não quer mais ser infeliz a fazer algo que não o transforma. Prefere ouvir a sua voz interior, a mesma que lhe diz para arriscar nos seus sonhos e ser acertado nas suas certezas.

Para isso, o Wandson rodeou-se das suas inspirações para se concretizar. Refere gostar muito de Magritte e da sua maneira de brincar com as imagens nos seus quadros, jogar com a incerteza das coisas, com piadas e sentido de humor, com bonecos e com a realidade inventada, colorida e imaginária. É neste surrealismo mágico que se define e encontra. E, se antigamente os amigos não o entendiam e o acusavam de ser infantil por ter tantos brinquedos, hoje ele aceita-se tal como é, pois sabe que é isso que o faz ser único.

Ao mesmo tempo, reflecte-se também no seu amigo de todos os dias, Luís Octávio ou o @kitato, que é uma das pessoas que mais vive esta maneira de fotografar do Instagram, mergulha-se nisso e veste-o como se fosse uma segunda pele, um vício que acredita, que o motiva e faz crescer. Aos poucos, o @kitato motivou o Wandson a tornar-se num “monstrinho do Instagram”, mas, acima de tudo, a ver a vida com outros olhos, a ser quem é, a acolher a pessoa que tem dentro de si mesmo.

Desenganem-se aqueles que acham que ele é uma pessoa triste pelas coisas más que lhe aconteceram ou, por outro lado, um pateta ou sem sentido. É ingénuo, sim, e demorou muito tempo para crescer. Vivia numa bolha que rebentou e teve de saltar para a vida adulta. Aprendeu da pior maneira que crescer dói, crescer rasga e deixa marcas, mas nunca deixou de acreditar no valor das outras pessoas e que isso o faria muito melhor. E, aos poucos, o Wandson entendeu que as coisas certas acontecem na altura certa. Esbarrou-se com as pessoas certeiras, criou verdadeiros amigos, fundou-se e fundamentou-se nos alicerces perfeitos para si.

Já lhe chamaram Watson (uátsón), Wedson (uédesóne) e outros nomes igualmente ridículos. Por isso, se o conhecerem na noite, provavelmente não será o Wandson, que é tão difícil de dizer em português de Portugal e suscita os erros mais absurdos. Cansado de repetir o seu nome, na noite ele é o João Lisboa. Tem os olhos doces que contam as histórias mais bonitas. Tem o sorriso sincero e sentido, o caminho directo do seu coração de leão. Tem uma vida paralela e é um agente secreto e imaginário do Instagram, e, entre risos, resolve-se nas suas palavras, confronta-nos com as suas dualidades, revela-nos segredos e dá outros significados às tristezas. E é, sem dúvida nenhuma, uma das pessoas mais inspiradoras que já conheci.

Obrigada por seres assim, uma criança com um coração de leão, e por nunca desistires de sonhar. Obrigada por seres um filme da Disney daqueles bons, que nos ensinam sempre a ser mais fortes. Sonha sempre mais alto e nós, os admiradores, vamos contigo. Estejas onde estiveres, seja onde for.

P.S. Sigam-no no Instagram (@wandson) e dêem umas gargalhadas junto com ele. 🙂

Por Raquel Caldevilla publicado in Raquel Caldevilla

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