A caseira de Son Serra esfolava coelhos todas as quartas-feiras; estendia as peles num arame e dava os pés aos cães de presa maiorquinos. Num dia de setembro do ano de 1939, terça-feira, um vizinho avisou-a de que cinco homens tinham fuzilado o seu filho numa encosta do cemitério. Chovia. A caseira de Son Serra levantou-se do tamborete, vestiu-se com a muda mais nova e pegou fogo à casa. Sem fazer testamento, dizem agora.
in Resistir ao tempo antologia de poesia catalã (edição bilingue), organização e tradução do catalão de Àlex Tarradellas, Rita Custódio e Sion Serra Lopes, Assírio & Alvim, junho 2021, página 511