De que agreste balada da verde Inglaterra
de que tapete persa, de que região enevoada
das noites e dias que o nosso ontem encerra
veio a corça branca com que sonhei de madrugada.
Duraria um segundo. Vi-a cruzar o prado
e perder-se no ouro duma tarde ilusória
leve criatura feita dum pouco de memória
e dum pouco de olvido, corça de um só lado.
Os numes que regem este curioso mundo
me deixaram sonhar-te, mas não ser o teu dono;
talvez num recanto do porvir profundo
te encontrarei de novo corça branca dum sonho
Eu também sou um fugitivo que dura
um pouco mais que o sonho do prado e a brancura.
in Museu & Outros poemas, Jorge Luis Borges, Fenda, 1982, tradução de Jorge Sousa Braga