SE VOCÊ está cansado (a) e desesperançado (a), não vá olhar uma obra suntuosa, um edifício moderno, destes todos de vidro “fumê” preto, ou uma casa de arquitetura moderna, ou mesmo uma fotografia do Palácio do Planalto com suas curvas e geometrias. Há receitas melhores: um campo verde de grama aparada; um cavalo tordilho, ou mesmo um alazão em corrida sem cavaleiro com crina ao vento; ou uma jovem bonita, simplesmente vestida, de “short” “jeans”, descalça, camiseta branca e cabelos recém-lavados; ou uma vaca leiteira de úberes repletos, com seu olhar manso; ou um bando arisco de bicos-de-lacre. Dou-lhe minha visão predileta.
Olhar um casario antigo. Não pode estar muito estragado, se não dá ideia de decadência; não deve estar recém-pintado, se não lembra rosto de plásticas repetidas. Fiquemos por aqui para imitar Mestre Cartola, quando avisava que não queria magoar e não compararia amores. Se estivéssemos à procura só de movimento, talvez ficasse no conselho de apreciar a jovem da camiseta branca, “short” etc. Só que vamos nos fixar nos velhos casarios, conservados e habitados. Cinco ou seis casas, uma azul, cor do céu de inverno com sol e ar límpido, uma de três andares e nas telhas calhaus se pode ver umas ervinhas nascendo.
Todas as casas com janelões de madeira, dois deles com sacadas de ferro, bem conservadas e pintadas de azul marinho, uma das casas deve ter janelões arredondados e outra detalhes em rosa, rosa da Mangueira e sem os verdes, que ficam fora do casario. A rua deve ser em declive e se olha do lado alto, para se ver os telhados, com a impressão de que se vê as vidas antigas que ali transcorreram. A calma, as conversas, a hierarquia, a autoridade e para não mentir, que nunca é bom, a hipocrisia, discreta hipocrisia nos relacionamentos familiares dos antigamente. Encontrava-se o louvável respeito pelos idosos. Se a janela da sala estiver aberta, ver-se-ão cadeiras vienenses de madeiras recurvadas, uma de balanço e palhinha, mesinhas, panos de crochê, bibelôs e, mais ao fundo, encompridando os olhos pela casa, estará a sala de refeições, a mesa enorme, bem sentida pelo uso, muito limpa e conservada, com fruteira repleta e cheiro gostoso de várias frutas em seu centro.
As camas não vou comentar funções, que sejam marquesas ou catres e que fiquem com os segredos e atos de alcova de onde todos nascemos e que não requerem alarde. Voltemos à calçada estreita, aos paralelepípedos, às aldravas, às tardes, às merendas, aos ajantarados dos domingos, quando só após, que pena, saíam as cozinheiras, negras, gordas e risonhas, para rápido descanso em suas casas. Fica do casario uma impressão de vida calma, sabedoria, solidez e encanto de bolo de fubá grosso e café coado na hora em filtro de pano. Descansou, voltou a esperança? Olhe, se integre à placidez do casario, banhado por luz amena. Esta não é uma receita, que antes vem com uso interno. Não falha, creia.
Por Pedro Franco