Velha amiga agora já não vive ninguém
que se lembre de quando eras jovem
foi no pico do verão quando te vi pela primeira vez
no esplendor do dia a maior parte da minha vida passada
com a erva seca sussurrando à tua sombra
e no entanto já tinhas passado por guerras
e ecos de guerras em torno do teu silêncio
através de dias de separação e épocas de ausência
com a casa esvaziando-se consoante os anos iam passando
até se transformar na morada de morcegos e andorinhas
e contudo quando a primavera sobe em direção ao verão
tu abres mais uma vez os dedos enrolados e sonolentos
de novas folhas como se nada tivesse acontecido
tu e as estações falam a mesma língua
todos estes anos olhei através dos teus ramos
para o rio que corre lá em baixo para os telhados e para a noite
tu eras o modo como eu via o mundo
tradução de Jorge Sousa Braga