Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais importa. Para que o horrível fardo do tempo não vos pese sobre os ombros e vos faça pender para a terra, deveis embriagar-vos sem cessar. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude à vossa escolha. Mas embriagai-vos! E se um dia, nos degraus de um palácio, na erva verde da valeta, na solidão baça do vosso quarto, acordares, já sóbrios, perguntai ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai: «Que horas são?». E o vento, a onda, a estrela, a ave, o relógio, responder-vos-ão: «São horas de vos embriagardes!» Para que não sejais os escravos martirizados do tempo, embriagai-vos sem cessar. De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.
in O vinho e as rosas, Assírio & Alvim, novembro 1995, tradução de Jorge Sousa Braga