Não tens que ser bom.
Não tens que caminhar ajoelhado
durante quilómetros através do deserto, em sinal de arrependimento.
Só tens que deixar o afável animal do teu corpo amar aquilo que ama.
Fala-me do teu desespero e eu falar-te-ei do meu.
Entretanto o mundo não pára.
Entretanto o sol e os seixos transparentes da chuva
movem-se através da paisagem
sobre as pradarias e as árvores mais altas,
as montanhas e os rios.
Entretanto os gansos selvagens, lá no alto do céu de um límpido azul,
dirigem-se para casa de novo.
Quem quer que tu sejas, por mais solitário que estejas,
o mundo oferece-se à tua imaginação,
chama-te como os gansos selvagens, duma forma áspera e emocionante –
repetidamente anunciando o teu lugar
na família das coisas.
tradução de Jorge Sousa Braga