TOMEI conhecimento do concurso «Histórias em Postais» pelo «blog» Concursos Literários (sigo-o já faz alguns anos, o seu trabalho de divulgação merece uma nota de apreço) e julguei, imediatamente, esta iniciativa uma excelente atividade para desenvolver junto dos «meus» alunos e alunas da área curricular disciplinar de Português. Porquê? Primeiro, decerto uma questão geracional, pelo facto de ser promovido por um jornal, o Correio do Porto, meio de comunicação através do qual tantas descobertas e novidades integraram a minha adolescência; segundo, a ideia ter surgido a partir de Alice Vieira, uma autora fundamental na construção do meu imaginário – a boneca de Mariana em «Rosa, minha irmã Rosa» foi, em 1986 (ano em que li o livro), a confirmação de que outros pensavam diferente.
Tenho o privilégio de partilhar seis tempos semanais com duas turmas, 5ºB e 5º C, na Escola Básica e Secundária Bento Rodrigues – Ilha de Santa Maria, Região Autónoma dos Açores. Se utilizo a palavra privilégio não é por acaso, a sua adesão à atividade foi imediata e o entusiasmo com que se dedicaram deve ser sublinhado. É também importante notar que estes alunos e alunas estão a frequentar o primeiro ano do segundo ciclo, ou seja, esta disponiblidade para a escrita e a vontade em participar, sem a necessidade de motivação adicional, também se deve ao trabalho desenvolvido pelos docentes que os acompanharam durante o primeiro ciclo. Nunca é demais (re)lembrar que são esses profissionais, quase sempre num regime de monodocência, os primeiros a transmitir alfabeto, a mostrar significados e a abrir o caminho para o mundo da leitura e da escrita.
Quando expliquei aos alunos e alunas o teor do concurso surgiram várias dúvidas: o que é um cartão postal? É como um daqueles postais de Natal? O que é um selo postal? Onde é que se compram esses selos? Microconto? O que é isso?
Trabalhar na área do ensino, nomeadamente na escola pública, possibilita o contacto tanto com múltiplas realidades como com diversas circunstâncias. Se, por um lado, os vários aspetos formais da profissão obrigam a cumprir com metas, objetivos e classificações sumárias, por outro lado, é também este o ofício que permite mostrar outros caminhos, outras direções, para além dos manuais escolares, programas curriculares ou exigências institucionais. O microconto não é (ainda) um género literário reconhecido.
Por sermos seres humanos somos também seres narrativos, feitos de histórias e com estórias para contar, pensamo-nos como personagens, vivemos e recontamo-nos todos os dias. Crescemos assim. Aprendemo-nos uns aos outros. Estes alunos e alunas partilham convosco microcontos inventados a partir das suas experiências, do seu quotidiano ou daquilo que o seu imaginário contém. Mostram-nos os seus mundos.
Por Dulce Correia