Verão, a estação das melancias.
E da tua história com elas:
infância, um lar
para doentes incuráveis,
as toucas brancas das Irmãs da Caridade
navegando no jardim.
O teu avô, que administrava a casa,
cultivava melancias em estufas.
As irmãs viriam lá
reivindicar os frutos
– ainda pouco maduros
nos seus pedúnculos umbilicais —
e em letras cuidadosas e uniformes,
na melancia da sua escolha,
cada uma escrevia o seu nome.
Tinham ali algo que lhes pertencia,
e que elas guardavam zelosamente.
As melancias cresceram e com elas
nas peles listradas de verde
também os seus nomes.
Como se elas se tivessem libertado
das Irmãs da Caridade,
que as usavam modestamente como os seus hábitos,
e estavam vivendo uma segunda vida
como frutos suculentos,
disputando espaço entre as folhas.
Às vezes as melancias estouravam.
Uma rachadura percorria o nome.
E lá dentro aparecia
a polpa cor de rubi.
Tradução de Jorge Sousa Braga