Nunca houve deus, nem virgens, nem santos,
nem ícone que proteja, nem oração que console;
nunca houve milagres ou prodígios,
nem salvação da alma ou vida eterna;
nem palavras mágicas, nem bálsamo eficaz
contra a dor que nunca cicatriza;
nem luz do outro lado das sombras
nem saída do túnel, nem esperança.
Só nos acompanha nesta travessia
um anjo perplexo que suporta
como nós a mesma penosa vida.
in As sombras brancas, setenta e sete poemas sobre anjos caídos de outras línguas, Língua Morta, novembro 2016, página 56, tradução de Jorge Sousa Braga