Em 1958 ou 59 quando tinha 16 anos
ocorreu-me a ideia
de substituir o jardim dos meus pais
por um jardim japonês —
era num bairro de classe média
em Tulsa, Oklahoma.
Cheguei a mostrar um desenho à minha mãe,
que tentou imaginar o seu relvado macio
substituído por pedras, gravilha
e, de alguma forma, uma fonte.
Ainda antes de ela dizer diplomaticamente
Eu mostro ao papá
percebi que a ideia não era exequível
e estendi a mão para que me devolvesse o desenho,
aliviado pelo fracasso.
Mas e se os meus pais tivessem aceitado
não só fazer o jardim
mas também demolir a nossa casa
e substituí-la por uma casa japonesa,
vestido kimonos e aprendido japonês,
o meu pai a desfilar entre os pinheiros como um samurai,
a mãe de joelhos e cabeça inclinada?
A casa ficou igual, a relva cresceu
e foi cortada, eu fui para a faculdade,
os meus pais divorciaram-se.
Agora vive lá outra pessoa,
feliz entre as flores de cerejeira que nunca caem.
por Ron Padgett in Poemas Escolhidos tradução de Rosalina Marshall, Assírio & Alvim, setembro 2018, página 233