Até à hora do ocaso amarelo,
quantas vezes terei visto
o poderoso tigre de Bengala
ir e vir pelo predestinado caminho
detrás das barras de ferro
sem suspeitar que eram o seu cárcere.
Depois viriam outros tigres.
O tigre do fogo de Blake;
depois viriam outros ouros
o metal amoroso que era Zeus
o anel que cada nove noites
será nove anéis, e estes nove
e não há um fim.
Com os anos me foram deixando
as outras formosas cores
e agora só me restam
a vaga luz, a inextricável sombra
e o ouro do princípio.
Oh poentes, oh tigres, oh fulgores
do mito e da épica
ou um ouro mais precioso, teu cabelo
por que anseia estas mãos.
in Museu & Outros poemas, Jorge Luis Borges, Fenda, 1982, tradução de Jorge Sousa Braga