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Os dias das cebolas por Carl Sandburg

Os dias das cebolas por Carl Sandburg

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A senhora Gabriella Giovannitti aparece na Peoria Street todas as manhã às nove em ponto
com um molho de lenha à cabeça e os olhos a abrirem caminho aos velhos pés.
Sua nora, a senhora Pietro Giovannitti – o marido morreu-lhe numa explosão, num túnel, por descuido de um camarada qualquer –
trabalha dez horas por dia, e às vezes doze, na apanha de cebolas para Jasper, na estrada de Bowmanville.
Toma o «elétrico» às quatro e meia da manhã a senhora Pietro Giovannitti,
e volta do Jasper, com o salário de um dia, entre as nove e as dez da noite.
A semana passada ganhou oito cêntimos por caixa a senhora Pietro Giovvanitti, na apanha de cebola para Jasper,
mas esta semana Jasper reduziu o pagamento a seis cêntimos por caixa visto ter havido muitas – mulheres e raparigas – que leram o anúncio no Daily News.
Jasper é membro da Igreja Episcopal de Ravenswood e em certos sábados sente-se feliz ao cantar o credo de Niceia com as filhas à volta a juntarem vozes à dele.
Se o pregador repete sermões já velhos, a mente de Jasper corre para a quinta se setecentas jeiras e pensa na maneira de a fazer produzir com mais rendimento,
e às vezes congemina se valerá a pena pôr um anúncio no Daily News para que se apresentem mais mulheres e raparigas e se reduzam assim os custos do trabalho.
A senhora Pietro Giovannitti está bem longe de se sentir desesperada com a vida: a sua alegria consiste num menino que – ela sabe-o – lhe chegará dentro de três meses.
Ora, se estas são cenas de hoje, há outras cenas do amanhã da família Giovannitti que posso revelar-vos antecipadamente.
Como, nas manhãs de Inverno, eles vão ao armazém local com os cestos para as favas, a farinha e o melaço.
Já estou a ouvir os colegas a dizerem que isto é um bom material para uma novela ou, melhor ainda, um material que, trabalhado, daria uma boa peça.
Eu penso que não há dramaturgo vivo que possa descrever num drama a velha senhora Giovannitti quando, com a lenha à cabeça, aparece na Peoria Street às nove da manhã.

tradução de Alexandre O’Neil in Já cá não está quem falou, Assírio & Alvim, abril 2008, página 134

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