CREIO que os botecos estão sendo pasteurizados aos montes. A cada dia que passa, noto mais um bar transformado em fast food-drink ou farmácia. Entretanto, no Rio de Janeiro, ainda existem pés-sujos que resistem.
Conheci um deles que tinha balcão alto e mesas com tampo de mármore. Mas, durante algum tempo, o portuga Germano fez adaptações para sobreviver. Trocou algumas mesas para tampo de madeira e outras tantas totalmente de plástico. Passou a servir refeições na hora do almoço.
O pé-sujo ficava situado em uma esquina, ao lado de uma funerária. Quase em frente existia uma sinagoga. No final da rua uma delegacia. Ali, bem próximo ao Maracanã, o proprietário exigiu um elevado aluguel. Assim o pé-sujo foi pro beleléu.
Foi no protesto pelo fechamento do boteco do Germano que encontrei Vicente, colega de trabalho, de bar, de copo e de velhos carnavais no “Bola Preta”, com pit-stop no Bar Luiz. O bom papo vai contado sem qualquer alteração do relato que ele me fez. Dois dedos de prosa que envolveram frequentadores e nomes de alguns blocos do Rio.
A conversa começou a rolar pelo João, que não abria mão de sair em blocos botafoguenses (do bairro de Botafogo, claro!): “Perereka sem dono” e “Pela Saco”. Daniel, morador da Urca, sugeriu aparecer no “Só o cume interessa”. Os dois convidaram o Amendoim para o “Pela Saco”. Convite recusado sob alegação de participação no “Bloco da ansiedade” e no “Espumas e paetês”. Mauro, ligado na conversa, fixou o olhar no Amendoim e ternamente sussurrou:
– “Me beija que eu sou cineasta”!
Foi aí que o portuga gritou em direção ao Amendoim:
– Vem cá, ô pá! E se liga “Se não quiser me dar, me empresta”!
Nesse momento o Beto na mesa dos fundos regougou:
– Vamos logo no “É tudo ou nada”!
Sentado à frente do Beto, Luiz Empreiteiro imediatamente saiu de lado e replicou:
– Eu sou é “Banda do arroxo” – como a dizer que era espada.
Dedé zagueiro não perdeu a vez:
– Ah! Prefiro o “Rola preguiçosa – tarda, mas não falta” ou “Xupa, mas não baba”.
Sem nada entender do que se passava e, como sempre, chegando um pouco mais tarde na bola, Barboza solta um:
– “Que merda é essa”?
Por consenso combinaram encontrar no “Fofoqueiros de plantão”.
– E aí? Tais a fim de ir, ô Emergente? – falou o Vicente
– Então, vamos lá. – respondi. Mas, este ano tá difícil de acreditar. Tem até japa-paulista rainha de bateria. Como diria o João do Rio, na folia de momo a alma carioca é mostrada nas ruas, bares e em nomes dos blocos de carnaval.
Texto de Protasio Ferreira e Castro e ilustração de Edna Moura
NOTA: Os nomes dos blocos carnavalescos estão colocados entre aspas.