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Porto visto por Helder Paraná do Coutto

Porto visto por Helder Paraná do Coutto

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HELDER Paraná do Coutto nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, depois viveu em Teresópolis, ambas no Brasil, a seguir Santiago de Compostela, na Galiza, Espanha e, por fim, Estoril, Cascais. É licenciado em biologia e exerce a atividade profissional de antiquário. D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal, é, para si, sinónimo da cidade do Porto, a que acresce o facto de, comparativamente a Lisboa, ter sabido manter os seus valores, apesar das sacudidelas do tempo e das crises. Aprecia o registo iconográfico dos postais, cujas mensagens são, mais que tudo, a expressão de um momento.

Por Paulo Moreira Lopes

1 – Data de nascimento e naturalidade (freguesia e concelho)?

20/03/1956 Niterói, Rio de Janeiro.

2 – Atual residência (freguesia e concelho)?

Estoril, Cascais.

3 – Em que outros locais viveu de modo permanente?

Rio, Teresópolis, Santiago de Compostela.

4 – Habilitações literárias?

Biólogo.

5 – Atividade profissional?

Antiquário.

6 – Em que medida o local onde nasceu e viveu ou vive, influenciou ou influencia a sua vida artística?[1]

Creio que nenhuma. Ou só para estabelecer cenários.

7 – Quando pensa na cidade do Porto lembra-se imediatamente de quê?

De D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal.

8 – Já visitou o Porto? Em caso afirmativo, por que motivo e qual a ideia com que ficou da cidade e da região?

O Porto tem loja de rolhas, loja de cordas, de frascos, de metais, Lisboa com as sacudidelas da crise não se aguentou, perdeu tudo que tinha há 20 anos. Esta a diferença entre o capital mercantil flutuante e o arraigado. Vale dizer entre a mentira, que  é esta que todos vivemos de valores estáveis e que na verdade não são, e valores que deitaram raízes na atividade humana, em seus ofícios, em suas vidas, em sua maneira de ser, de tal modo conformando-as que expressam suas existências.  Pois apesar das mudança que o tempo impõe a tudo e a todos, o Porto soube guardar seus valores, penso que tem um poema meu que diz bem disso, desse equilíbrio entre mudar e permanecer, falando dos lugares imemoriais e presentes, eternamente presentes na cidade:

Romança da cidade do Porto

Já não há mais ‘Boa Nova’,
Já não há mais tradição
Foram-se no tempo por prova
De uma diferente lição
Não mais se diz: Chega barco!
Neste porto de mil bocas.

Ai minha Nossa Senhora do Cais
Tenha piedade dos ais
Que nós choravamos a Vós,
O que hoje traz os ‘Ós’
A cada nascimento
À beira deste cais de tantas histórias
Que vem do tempo das memórias
Em nós no justo momento
A dizer: NÃO ESTAIS SÓS!

Mareantes do Senhor dos Matosinhos:
Orem com muito amor
Nesta Ribeira de tantas, de imensas naus,
Vejam lá, sejam bonzinhos,
Que Ele veio de longe para nos livrar dos maus
E dos males e das misérias e da dor.

Há muita pedra nos quebrantos
Que não se abalam deste Pilar
E não espantam estas superstições
Das quais não nos podemos livrar,
Sejam concordes, sejam bons
Sempre assim estes povos do mar.

Foram orar ao Senhor da Boa Passagem
A fugirem dos sopros desta pena ventosa
Desta poesia ou desta prosa
Para não se esquecerem do local de abrigo
Que o seu nome justifica,
Nem mesmo quando oram devotos ao Morto
Que naquela Penha fica
Pois que ficam cá presos a este Porto.

Literatura postal

9 – Tem a mania dos postais? Em caso afirmativo como explica essa apetência por uma literatura tão sucinta e tão efémera?

Aprecio o registro iconográfico dos postais tão somente.

10 – Sente mais prazer em comprar, escrever e enviar o postal, em saber que foi recebido por outro ou em receber postais de outros?

Sim, de todos os lugares em que estive fiz questão de enviar postais aos meus filhos, para que fossem cultivando o apreço pelo registro da imagem, do momento, da história.

11 – Tendo em conta a popularidade da correspondência postal, será que podemos falar de uma literatura postal, quem sabe como uma derivação dos contos ou microcontos?

Não sei se são literatura, mas como possuo extensa coleção de postais, que vai dos reis aos cidadãos mais desconhecidos, tenho que a mensagem que contém são, mais que tudo, expressão da emoção do momento, coisa que agora se faz com selfies e msns. Provam-no as redes sociais.

12 – Endereço na web/blogosfera para o podermos seguir?

hdocoutto.blogspot.pt  Ou podem por tão somente o nome do blog. O Olho do Ogre. é o primeiro que aparece por ter já perto de um milhão de visualizações.

[1] NOTA: a pergunta pressupõe a defesa da teoria do Possibilismo (Geografia Regional ou Determinismo mitigado) de Vidal de La Blache, depois seguida em Portugal por Orlando Ribeiro, de que o meio (paisagem, rios, montanhas, planície, cidade e, acrescentamos nós, linguagem, sotaque, festividades, religião, história) influenciam as opções profissionais e artísticas dos naturais desse lugar.

§

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Vida de Moliceiro por Hélder Paraná do Coutto para a I Convocatória de Histórias em Postais.

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