EM geral estou com os que lutam por preservar nosso idioma, já que a última flor do Lácio é rica e habitualmente não carece de estrangeirismo. Só que auto-retrato não exprime selfie. Selfie ficou sendo a própria pose tirada em celulares e afins. Noutro dia vi idosa oxigenada, nada contra, lutando contra a idade, nada contra desde que o ridículo não seja atingido, ajeitando as madeixas com esmero, puxando a blusa, estudando ângulos, treinando sorrisos e com alentado interesse. Ajeitada, saca da bolsa um telefone celular e tome selfies. Mudava de pose e novo clicar. Para quem mandaria? Há os que tiram e guardam e guardam, outras distribuem nas redes sociais. A febre selfie foi tanta que criaram o pau de selfie. Pendurava-se o celular e eram selfies de vários e estudadas alturas, muitas vezes com a heroína acompanhada. Aí não era bem selfie, segundo os ditames correntes e estes são seguidos por tropas nas quais a bandeira futilidade tremula.
Sou contra selfies? Nunca. Também não sou contra celulares, desde que regrados e contribuindo para a evolução e não para a involução dos mais jovens. Idem computadores e semelhantes, que precisam ter horários organizados, especialmente para adolescentes. Pintores importantes, que saiba, não foram a selfies e sim a auto-retratos, alguns se mostrando em várias fases da vida e Van Gogh é exemplo. A lista poderia ser enorme. E escritores criaram alter egos e o mais frisantes talvez sejam Miss Marple de Agatha Christie e entre nós Emília e Monteiro Lobato. Em rápidos selfies literários escritores colocaram suas pretensas virtudes em determinado personagem. E que autor não deseja que seu livro de sucesso tenha uma resenha muito favorável de sua obra e vida e um retrato, algumas destas fotografias estão bem retocadas e as mais antigas na aparência, favorecendo o autor. Quem sabe até que nos livros mais novos o tal retrato benevolente tenha saído de várias provas, colhidas em vários selfies. Com peruca, sem peruca etc, com maquiagem, ou sem.
Julio Iglesias pedia que só tirassem fotografias de um de seus perfis, que o outro o desmerecia. Será que agora faz selfies? Se tivesse que chutar que homem gosta mais de seus selfies, apontaria o craque português Cristiano Ronaldo, no momento e com mérito o melhor craque do mundo. Ao ver do cronista seu futebol é ótimo e só perde para sua vaidade. E, voltando à nossa vaca fria, a mudança do comportamento vaidoso feminino está a perder para o masculino e se no passado as lojas de roupas femininas davam em número goleadas nas masculinas, a vaidade dos homens, muito incentivada pela propaganda e pelo mau gosto feminino em relação à escolha dos parceiros, fez com que o número de lojas masculinas se rivalize com as dedicadas à roupa feminina. E a TV passa a ser parâmetro de moda do Oiapoque ao Chuí. Então homens chegam também a selfies. Isto é bom? Isto é ruim. Em princípio nada contra, só que a História pede sempre tempo para julgar novidades nas modas e conseguentemente nos comportamentos. É, tive sempre o bom gosto de não fazer selfie e por variados motivos, principalmente os de ordem estética.
Por Pedro Franco
