TIAGO Rodrigues tem 29 anos e há dois anos deixou a Póvoa de Varzim rumo a Toronto, no Canadá, em busca de melhores condições de vida. Durante 13 anos foi praticante de atletismo ao mais alto nível, tendo-se sagrado campeão nacional e envergado as camisolas do Porto e Sporting. Em 2012, fustigado por lesões, abandonou o atletismo e decidiu tentar a sorte noutro País. No Canadá exerce a profissão de Taper, isto é, emassa as paredes, deixando-as prontas e lixadas para o pintor. Tudo o que está relacionado com fissuras, pregos e esquinas, é feito pelo Taper, cabendo-lhe a responsabilidade de deixar tudo pronto para ser pintado.
A Voz da Póvoa – Como surgiu a oportunidade de ir para o Canadá?
Tiago Rodrigues – Vivo no Canadá desde Fevereiro de 2013, altura em que decidi seguir o “sábio” conselho do nosso Primeiro-Ministro, e emigrar em busca de um futuro melhor. Escolhi o Canadá porque é um País com que sempre me identifiquei e no qual vivi em criança, quando os meus pais cá estiveram emigrados. A escolha foi fácil mas a decisão foi difícil. Apesar de ter família no Canadá, a possibilidade só começou a ganhar forma quando um empresário radicado no Canadá me disponibilizou toda a ajuda. Três meses depois parti com a garantia que tinha um quarto alugado numa casa de portugueses.
AVP – Como caracteriza a zona/cidade onde habita.
TR – Vivo a 7/8 quilómetros do centro da cidade, numa zona tipicamente portuguesa/latina, com restaurantes, padarias, cafés e mini-mercados portugueses. É uma zona calma. As pessoas vivem em casas, não há prédios por perto, e o sossego é de tal ordem que até se estranha.
AVP – Emigrar foi um desejo ou uma necessidade?
TR – Como emigrante, gostaria de ter tomado esta opção mais cedo, pois o arrastar de um sonho que não se concretizou estava a “pesar-me” o futuro. Sou português, amo o meu País e não trocava Portugal por nada. Mas como não vislumbrava um futuro, tive que arriscar e procurar as oportunidades que em Portugal não existiam.
AVP – Já conhecia alguém em Toronto que lhe facilitasse a integração?
TR – Para além de ter família cá, falei com esse senhor meu conhecido, Joe Pires, que se prontificou a ajudar-me. Para além de um amigo, é também meu patrão desde então…
AVP – Foi difícil a adaptação?
TR – O início foi um pouco complicado, visto ter chegado em Fevereiro. Senti logo as temperaturas negativas a rondar entre os -5 e os -40. Tive a sorte de estar numa casa com dois portugueses da minha idade, também do Norte do País, que me ajudaram bastante. O facto de nunca ter trabalhado era também um handicap, mas com força de vontade tudo se consegue. E este País permite isso. Quem quer trabalhar nunca terá problemas, visto ser diversificado o suficiente e em tremendo crescimento. No caso da língua, como tinha bases de inglês, foi uma maneira de “desenferrujar” e falar no dia-a-dia.
AVP – Que visão tinha dos emigrantes antes de partir para o Canadá?
TR – Somos um povo trabalhador e se emigramos é porque procuramos uma vida melhor, um lugar ao sol na velhice. Conheço bastantes portugueses que estão no Canadá e todos querem o mesmo: ter um trabalho e viver integrados na sociedade. Temos fama de bons trabalhadores e 75% trabalha na construção civil, onde são bem remunerados e procurados pelos patrões.
AVP – Gostaria de experimentar viver noutro País?
TR – Não vejo a minha vida passar por outro País, muito menos regressar ao nosso querido Portugal. Tenho pena, mas a realidade está aos nossos olhos. Tenho emprego, saúde e pago impostos. Por isso, estando numa situação confortável, o tempo leva-nos a não querer deixar o quotidiano canadiano.
AVP – O que pensa da situação sócio-económica portuguesa?
TR – Viajo para Portugal uma a duas vezes por ano. Embora as passagens sejam caras e as horas de viagem longas, vale sempre a pena visitar a família, os amigos e o nosso mar. Mas a situação económica aí está má. Somos um povo habituado a viver com aquilo que nos é dado. A corrupção e a gestão calamitosa atiraram-nos para a cauda da Europa. Portugal é um País rico mas não é explorado da melhor maneira. Com a falta de emprego, os jovens não têm outra solução senão emigrar.
AVP – Que conselhos deixa a quem quiser tentar a sorte no Canadá?
TR – Primeiro deve procurar informação e tentar obter os papéis de residência, que facilitam todo o processo burocrático e a integração no mercado de trabalho. O Canadá é multi-facetado, muito rico em recursos naturais e que continua em crescimento. A taxa de desemprego ronda os 5% e estão sempre a abrir vagas de trabalho.
AVP – Quais são as melhoras zonas do Canadá para férias?
TR – As principais cidades são Toronto, Montreal, Vancouver e Ottawa, a capital. Em Toronto, para além das centenas de restaurantes onde se pode provar de todas as gastronomias, o Skydome, a C.N. Tower, o Air Canada Centre, os centros comerciais enormes, a paisagem do lago, os teatros, a multicultura brutal e a vida nocturna são pólos de atracção, dependendo da estação. Como temos neve durante quase quatro meses, os desportos de neve também são muito atractivos. É um País que aconselho a conhecer.
Publicado in A VOZ DA PÓVOA