Nos campings baratos do litoral,
com sotaque estrangeiro e calças sujas,
estendidas à sombra; num portal,
comendo uma sanduíche com uma cerveja,
ou na praia, tomando banho nuas:
com que olhar atónito, já a caminho
de casa, os livros debaixo do braço,
falando sem cessar de imaginários
amores prematuros,
de bailes em garagens
com a música lenta, de revistas;
com que olhar atónito, dizia,
as via passar, indiferentes
as nascente desejo, àquele primeiro fingimento
de leituras, de gin e de cigarros
com que nos arrastávamos,
pelas ruas de graffiti,
até esta espécie de superação:
nos campings baratos, à sombra
ou na praia, tomando banho nus,
perto dessas mulheres que fingem agora
deixar-se convencer pelas nossas manhas,
entender a nossa língua.
in Poesia Espanhola de Agora, vol. II, tradução de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio d’Água, janeiro 1997, página 781