Tinha medo dos cães dos caminhos que nunca fazem nada e até se fingem distraídos e olham para o outro lado ao passarem perto das pessoas, para não terem de as cumprimentar. Eram cães filosóficos que arrastavam pelo chão as cabeças meditabundas e cheiravam com deleite a farinha do caminho.
Algum de entre eles parecia um cão miserável que lhe ia pedir uma moeda, mas também passava ao largo.
Ramón Gómez de la Serna in Quinta de Palmyra, Vasco Santos Editor, 2022, tradução de Joana Morais Varela, página 112